Elegia
Edgar Franco é um prolífico criador não só de histórias em quadrinhos, mas de uma obra que perpassa diversas expressões artísticas. O resultado é um produto gráfico dos mais instigantes, uma mistura equilibrada de arte visual com poesia, gerando um tipo de história em quadrinhos que não se enquadra nos gêneros convencionais. Esta mistura pode ser definida como quadrinhos poéticos para uns, ou quadrinhos poético-filosóficos, para outros. O certo é que as histórias de Edgar estão repletas de simbologias e indagações metafísicas, que dão ao seu trabalho uma personalidade inconfundível e inigualável.
Como afirma o autor, Elegia nasceu da tentativa de narrar a saga de uma vida e de muitas das dúvidas existenciais de um ser humano, metaforizado na figura fantástica/mítica do centauro, evidenciando um de seus aspectos simbólicos: o da conexão direta entre homem e natureza/cosmos.
Com participação intensiva no meio independente já há muitos anos por meio de centenas revistas e fanzines, Edgar lançou-se mais uma vez no desafio da restrição do espaço para desenvolver sua HQ, exercitando seu poder de síntese. Desafio hipertrofiado ao se considerar que esse tipo de quadrinhos exige um sem número de referências e uma contextualização que extrapola as HQ convencionais.
Em Elegia, os três capítulos têm como tema liberdade, amor e morte, contudo a história flui livremente. Edgar trabalha o texto mais em sua dimensão poética do que em prosa, deixando que símbolos e arquétipos fossem incorporados sem censura às imagens.
A HQ se faz acompanhar de um registro sonoro, uma obra à parte, mas inspirada no clima do universo mítico da história. Para a composição das músicas foram convidados Grim e Naberius, músicos da conceituada banda de black metal sinfônico Eternal Sacrifice e do projeto de dark atmospheric “Aborym”. Para Edgar, a ideia não era a criação de uma trilha sonora, pois umas das características das HQs é o tempo de leitura individual que não deve ser limitado pela temporalidade musical; a ideia era que criassem uma peça independente, uma nova obra baseada na HQ, mas com toda a riqueza e liberdade possíveis. O resultado, como afirma o autor, é uma releitura emocionante através dos climas gerados pelo som, esta entidade invisível que tanto nos maravilha.
H. Magalhães