Um texto curto para uma história longa. É este o ponto de partida para a comemoração dos 40 anos de criação de Maria. Não precisa muito arrodeio para dizer o essencial, é esse o espírito da personagem em suas mensagens quase telegráficas. A opção pelo formato “tira” leva em conta esse princípio, de dizer o que é preciso sem floreios. Curto e incisivo, o texto de Maria prima pela crítica política e social quase sempre ferina ou por imersões existencialistas.
Maria nasceu em 1975 na Paraíba, em pleno regime de exceção. Inspirada nas tiras críticas que circulavam nas publicações alternativas, a personagem, que inicialmente era uma solteirona em busca de companhia, logo foi se posicionando na luta contra a ditadura militar, o cerceamento das liberdades políticas, a censura, mas, também, contra os costumes arcaicos que estruturavam uma sociedade machista, racista e homofóbica.
Foi uma transição natural, seguindo o amadurecimento do autor, que se configurava no engajamento em movimentos sociais como o estudantil e as ditas “minorias”, em particular o movimento gay. Maria tornou-se a porta-voz de boa parte de uma geração que compartilhava as angústias e esperanças de transformação, buscando construir no grito e na coragem um melhor porvir.
Esse percurso da personagem já foi descrito detalhadamente na edição de 30 anos, lançada pela Marca de Fantasia em 2005, portanto não vamos repetir a história. Esta edição de Maria, que comemora seus 40 anos, partilha com os leitores sua fase mais recente, com tiras que mostram a Maria de sempre em sua verve crítica, mas renovada em suas temáticas, pois que refletem os conflitos quotidianos.
H. Magalhães
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