Trajetória marcada pela contestação aos desmandos do poder e pela crítica insolente às idiossincrasias, Maria mantém-se sempre atual, inspirada no quotidiano. Em meio ao turbilhão provocado pela internet nos últimos anos, Maria não poderia deixar de botar o bedelho na efervescência política que assolou a todos. A campanha eleitoral para presidente em 2018 foi um momento-chave do confronto ideológico entre forças reacionárias, demagógicas e obscuras contra uma porção de racionalidade que persiste na sociedade.
Consolidada a situação adversa, Maria passou a circular em 2019 como página semanal para listas de contatos do WhatsApp e outros compartilhamentos. Num compromisso pessoal, Maria foi lançada regularmente todos os domingos do ano, por vezes mais de uma página por semana.
A interação com seu público, formado por muitos antigos leitores, mas também muitos novos, que viram em Maria algo como uma porta-voz, contou com a participação entusiasta nessa jornada interagindo com comentários e até sugestões de temas a serem abordados. Seu testemunho sobre esse momento crítico expõe-se como ferida aberta neste álbum. HM
Segunda edição impressa
Invertendo a ordem das coisas, que agora talvez já seja a nova ordem, o álbum de Maria saiu primeiro no suporte digital, disponibilizado gratuitamente no sítio da editora. Um presente carinhoso para as/os fãs. Agora lança-se a segunda edição, impressa. Maria ansiava para estar no papel, na materialidade a que tanto nos habituamos e que por acaso ainda cultivamos. Sai para os/as fãs intransigentes, que não abrem mão de possuir e guardar entre seus relicário um pouco de sua graça. Ei-la!
Páginas do álbum "A vida em turbilhão"
Pérola
A pérola é formada pelo mecanismo da ostra, diante do incômodo invasor.
Creio que “Maria, a vida em turbilhão”, surgiu como mecanismo de defesa em sua mente e coração, invadidos por tantos malefícios que ameaçam a liberdade, a democracia e o bom senso.
Grandes obras artísticas e culturais foram criadas justamente em grandes desafios vividos pelos autores. Acho que é o caso da sua publicação.
Em algumas páginas eu imaginava a hq no estilo lambe lambe, colada em locais públicos para serem lidas pelos transeuntes.
Pensei em sugerir que vc enviasse um exemplar para a Rita Von Hunty ( recentemente ela fez um vídeo com uma lista de livros lgbtq+). Seria interessante fazer o mesmo com quadrinhos mas eu não consegui o endereço dela (creio que por questão de segurança isso não é divulgado).
Enfim...parabéns.
Vc e seu trabalho são valiosos especialmente para nós mulheres, que passamos por um retrocesso doloroso e inquietante.
Anita Costa Prado (anitacostaprado@gmail.com, em 05/11/2020).
Reativo
Anita, obrigado pelas palavras generosas, fico contente que tenha essa percepção de meu trabalho. Foi exatamente isso que você falou, um processo reativo à barbárie que se instalou no país e que me atingiu profundamente.
Eu não produzia dessa forma, tão visceral, desde a ditadura militar. Comprometi-me comigo mesmo a fazer uma prancha por semana e em alguns momentos mais críticos fiz mais de uma. Os acontecimentos a criticar não davam trégua, eram mais abundantes. Parti da estratégia de fazer a crítica sem citar o nome do mandatário, não queria sujar meu trabalho nem datá-lo. Assim, a crítica vai ao sistema, não ao comandante da hora.
Foi um trabalho catártico, mas muito desgastante, a ponto que este ano passei seis meses sem fazer quadrinhos, precisava descansar a mente e focar em outras coisas. Mas a realidade se impôs e estou novamente com Maria, botando para fora as angústias com humor, quando é possível tê-lo. Henrique Magalhães (marcadefantasia@gmail.com, em 05/11/2020). |