O humor é também uma forma de protesto, subversão da linguagem. Maria nasceu sob essa sentença, em 1975, no Brasil. Desde 2018, antevendo o abismo em que o país se precipitava, Maria engajou-se na luta contra os que governam disseminando ódio e confundindo com discurso falacioso a mentalidade do povo.
Foram anos de intensa produção em que a personagem abordou boa parte das contradições políticas e sociais da atualidade. Mas não dava para acompanhar tudo, criticar todas as aberrações emanadas do poder e que tentavam minar a estrutura democrática, em particular no Brasil, com a corrupção e a destruição de qualquer resquício de civilidade do outrora “país do futuro”.
Se antes Maria era produzida em tiras, a nova fase estruturou-se em pranchas, em que se pode desenvolver o texto e dar mais espaço para as figuras, incluindo cenário. A complexidade das situações refletidas exigia mais argumentos; o espaço ampliado permitiu o desenho das personagens em corpo inteiro, representando melhor as expressões corporais e os detalhes do ambiente.
As pranchas de Maria foram enviadas para cerca de uma centena de endereços por meio de um aplicativo de mensagem. Salvo meia dúzia de aficionados que interagiam ao receber as pranchas e que as compartilhavam com seus contatos, o silêncio parecia realçar o paradoxo de nosso tempo, em que todos falam ao mesmo tempo e ninguém escuta.
A falta de diálogo beira a falta de educação. O cancelamento parece ser a principal ferramenta da indiferença. O humor pode ser, sim, um operante instrumento de luta, mas se esvai quando sua mensagem não encontra eco, cai no vazio, ressoa apenas no grito exasperado do autor.
Este volume reúne histórias produzidas entre 2015 e 2021, publicadas em álbuns pela editora Marca de Fantasia e agora pela Polvo, sendo algumas pranchas inéditas em ambas as editoras. |