Esta “fábula fabulosa”, como denominei no cabeçalho do livro, já dava o tom satírico que pretendia para a série que iniciava, mas que afinal ficou apenas nessa edição. O livro foi lançado em 1982 pela Editora Artesanal e pelo grupo Nós Também, com texto e ilustrações de minha autoria e revisão de Carmélio Reynaldo, na época meu professor no Curso de Comunicação Social da UFPB.
A Editora Artesanal era uma iniciativa independente que já vinha produzindo a série de revistas Maria, com as tiras de minha personagem de quadrinhos publicadas nos jornais diários da Paraíba. A “fábula fabulosa” era minha investida no campo literário que refletia não só o momento político que vivíamos – vide no livro as questões ligadas ao trabalho e ao lazer, a cooperação mútua, as decisões coletivas em assembleia, o exílio – como também a luta em defesa das minorias.
Aí entra o papel do grupo Nós Também, do qual fiz parte e fui um dos fundadores em 1980. O Nós Também atuava como militante dos direitos dos homossexuais e na luta contra o preconceito, reunia professores e alunos da UFPB, principalmente dos cursos de Comunicação Social, Artes, Psicologia e Arquitetura. Seu modo de ação, além das reuniões de estudo e conscientização, era por meio da produção artística com a confecção de cartões postais, grafites, outdoors, filmes e poesias. Quem lagarta fere... faz parte dessa produção, colocando situações que remetem à questão de gênero e a discriminação à homossexualidade.
Por fim, o livro enquadra-se, ainda que tardiamente, no que se denominou geração mimeógrafo por seu modo de produção, pela autoralidade e controle do processo editorial: reprodução em mimeógrafo, capa em linoleogravura e pintura manual, formato 10,5x15cm, que lembra em parte os folhetos de cordel.
H. Magalhães
Ilustrações do livro "Quem lagarta fere... com cobra será ferido", de H. Magalhães |
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