Com a atual descrença no estatuto científico da história, em que tudo não passa de versões e cada narrador tem toda a liberdade de apresentar a sua visão, a graphic novel Cumbe, de Marcelo D’Salete, se debruça sobre o passado para nele colher material que será reciclado, reprocessado, como um laboratório, gerando novas versões. As produções artísticas nas suas variadas formas de manifestação, e aqui inclui-se Cumbe, mantêm uma relação direta com os contextos que as cercam.
A obra de Marcelo D’Salete é um exemplo consistente da relevância estética e temática das graphic novel. O álbum nos conduz ao nosso período escravagista por um olhar minimalista que retrata personagens outrora meros coadjuvantes da história, como protagonistas que narram na ficção fatos que a história oficial esconde. O livro de Amanda Gomes de Oliveira analisa como se estabelece o diálogo entre ficção e história em Cumbe, visando a importância dos quadrinhos ao relatarem o cotidiano e as lutas do povo negro no país sem esconder detalhes significativos para que a história seja lembrada como realmente foi, sem falsas ilusões. |