Prazer em dizer; prazer em fazer

A construção de palavras para explicar os objetos é um exercício antigo. Do Crátilo, o belo diálogo registrado por Platão sobre o nascimento dos conceitos, a Michel Foucault, em seu livro As palavras e as coisas, os homens têm procurado adequar formas e conteúdos capazes de explicar o significado da vida cotidiana.

Um dos problemas enfrentados pelos teóricos da cultura é a correlação entre o fazer e o dizer.

Ao fazer se atribui, contraditoriamente, o poder de executar ações através de ferramentas (artesanais ou eletrônicas) sem reflexões. Isto nos levaria à falsa acepção: a vida cotidiana não carece de teorizações, ou seja, o que se conversa nos bares, nos rodapés das calçadas, nos bancos de praça faz parte de um “vazio reflexivo” entre o dizer e o fazer.

Como vimos, há a idéia premente que o dizer (aqui no sentido de conceituar) se distancia do fazer, em ordem cronológica e semântica, pois é preciso, nas sociedades mais pragmáticas, primeiro fazer para, depois, dizer. Desta forma, nossa capacidade de conceituar os signos que perpassam a nossa vida cotidiana fica limitada à razão instrumental ou, mais grave ainda, somos capazes apenas de conceituar o mundo quando estamos seguros de nossas referências “teóricas”, legitimadas pelo Estado.

Com medo de dizer, a Europa deixou florescer a mais cruel das barbáries do Século XX: o nazismo. E assim seguem, com mais covardia, a legitimação do modelo socioeconômico neoliberal que mata, de fome e epidemias, os mais pobres do planeta.

Neste segundo número, Quiosque dá continuidade à luta pela construção de diálogos entre professores e alunos da graduação em Comunicação Social da UFPB - Campus I, nos quais não deve prevalecer a exigência das sociedades nazi-fascistas, o medo de dizer, como nos demonstra Theodor W. Adorno, em seu ensaio Educação após Auschwitz.

No cotidiano, precisamos recuperar o prazer em dizer, e o prazer em fazer formas indissociáveis da vida acadêmica.

Wellington Pereira

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