Grávida de ideais
O número 3 de Maria, publicado em 1978, traz uma história realizada em 1977. Esse lembrete na primeira página da revista é importante para situar o tema da edição, que aborda com certa defasagem as campanhas institucionais sobre gravidez de alto risco e iniciativas de planejamento familiar do governo. No conjunto, embora cada tira dupla por página seja independente, forma uma história longa, que perfaz toda a revista.
A situação inusitada da gravidez de Maria passa pela concepção divina, por verminose e pelo que a personagem chama de gravidez ideológica, justificando a licença poética sobre a característica da personagem. Mais uma vez Maria usa fontes noticiosas para fazer sua crítica, que embora esteja calcada nos fatos cotidianos, ganha dimensão intemporal ao tratar de um problema social e político que extrapola o momento histórico. Ponto para a personagem, que permanece atual, malgrado as imprecisões linguísticas e o traço tosco, que caracterizam o momento de sua criação.
Vê-se no expediente que a revista é uma edição do Grupo Artesanal, entidade associativa sem fins lucrativos de produção artística, da qual o autor era membro e fundador. O Grupo, com personalidade jurídica, continua atuante produzindo peças teatrais, filmes e o bloco carnavalesco Cafuçu. Consta ainda o registro no DCDP do DPF, que era a Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal, uma exigência da época para a vigilância sobre os conteúdos artísticos e culturais.
H. Magalhães.


|