A dama do lotação foi um filme de estrondoso sucesso lançado em 1978, que atingiu mais de seis milhões de expectadores, sendo a quarta maior bilheteria do cinema brasileiro. A obra de Neville de Almeida, baseada em história de Nélson Rodrigues, fora classificado como drama erótico, causando furor com o protagonismo de Sonia Braga como uma mulher liberada que rejeita as investidas do marido para fazer sexo com homens desconhecidos que encontrava em ônibus, ou lotação.
Ao mesmo tempo em que afrontava o moralismo da época, regido pelo conservadorismo cristão da ditadura militar, o filme flertava com a perspectiva de independência e autonomia da mulher, fazendo uma crítica ao machismo instituído. O erotismo que dava o tom do filme beirava a vulgaridade, garantindo o assédio de uma plateia ávida por sexo.
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É exatamente sobre esse clamor nacional que Maria trata na primeira edição de sua revista. Em um momento de distensão do regime, a força mobilizadora se transmutava para o apelo sexual da massa, o que foi bastante criticado pelos setores politizados da época e também por Maria. Afinal, vivia-se ainda sob o regime de exceção e o governo reagia aos tímidos avanços da sociedade civil com campanhas de integração nacional, como o clássico "O Brasil é feito por nós", tão achincalhado pelos humoristas do Pasquim.
Maria também ironiza essas campanhas de forma ampla, ao abordar os bordões populares disseminados pela mídia, sobretudo pelas telenovelas da Globo, como a "Te contei". O dito virou mania e até denominou a gripe da época, espalhando-se massivamente entre a população. A mídia já se fazia impor em rede, formatando gostos e costumes, moldando o caráter da "consciência" nacional. H. Magalhães
Setembro de 2014 |