Reviravolta em poesia e imagem
A cultura popular sempre teve um caráter mais independente que comercial, não necessariamente por escolha dos criadores, mas, principalmente, pela indigência de nossas instituições públicas e do meio empresarial. Isso, de certo modo, não é totalmente negativo. Com a necessidade de fazer acontecer por suas próprias mãos os artistas podem experimentar toda a liberdade criativa sem as amarras do mercado nem as censuras oficiais.
No campo editorial essa realidade é premente. Poetas, romancistas, artistas gráficos, quantos têm oportunidade de expor sua produção pelas vias formais? Foi aprendendo a fazer seus pequenos folhetos que os poetas populares criaram o cordel e encheram as feiras com lirismo, aventura, romance e notícias. Os artistas gráficos viram no cordel o principal suporte para as xilogravuras, que nele se tornaram marca indissociável.
Com os quadrinistas se deu o mesmo. Alijados do mercado hoje chamado de mainstream, encontraram nos fanzines e publicações alternativas a possibilidade de dar vazão a suas histórias fantásticas bem como a visão crítica da sociedade. E o que temos hoje é uma realidade em que o que há de mais criativo e surpreendente vem justamente da produção independente por meio de autoedição e financiamento coletivo.
Com Reviravolta! A peleja de Sete Pragas contra o Demônio Galego, Alexandre Câmara, em um pujante texto poético inspirado no imaginário popular nordestino, se associa a Alberto Pessoa, exímio ilustrador e quadrinista para apresentar um álbum espetacular, com imagens impactantes e expressivas. Sim, todos os adjetivos são inevitáveis.
Na verdade, não se trata de um álbum de história em quadrinhos, mas de uma linguagem híbrida que associa o melhor do cordel com a excelência da arte gráfica. Está aí um campo criativo que merece mais investimento de nossos artistas textuais e gráficos, a comunhão dessas duas linguagens que não raro andam apartadas de nossa cultura popular. A obra de Alexandre Câmara e Alberto Pessoa nos serve de alento e inspiração. Henrique Magalhães |