Desde a década de 1970 não se via no cenário dos quadrinhos paraibanos uma obra tão expressiva quanto à de Shiko. Francisco José de Souto Leite, nascido em Patos, Paraíba, em 24 de março de 1976, apresenta um trabalho inquietante, com histórias que provocam o leitor, levando-o necessariamente à reflexão. Seguindo a mesma trilha dos jovens autores nacionais, Shiko buscou nos fanzines seu próprio espaço pra publicação. A partir de 1997 ele passou a produzir Marginal, do qual saíram oito edições. As HQ deste volume são uma compilação de algumas das melhores histórias publicadas nesse fanzine.
A qualidade gráfica e textual do trabalho de Shiko já se fazia notar não apenas em seu fanzine, mas em outras publicações independentes, como a primeira edição do álbum Marginal (Marca de Fantasia, 2006); Blue Note, em parceria com Biu, produzido por intermédio da Lei de incentivo à cultura do Estado da Paraíba, em 2006; Amores plurais (Marca de Fantasia, 2012), álbum coletivo em que fez a capa e uma das HQ e O azul indiferente do céu (Marca de Fantasia, 2013).
Se inicialmente Shiko buscou no espaço alternativo o meio ideal para desenvolver sua obra com toda liberdade e experimentação, não demoraria a ultrapassar os limites desse meio e chegar de forma arrebatadora ao mercado, com o lançamento de O Quinze, adaptação para quadrinhos da obra de Rachel de Queiroz (Ática, 2012) e Ingá, graphic novel com o personagem Piteco, de Maurício de Sousa (Panini, 2013).
Autodidata, Shiko armazena uma bagagem cultural invejável. Desde cedo leu os clássicos da literatura mundial, Rimbaud, Baudelaire, Marx, ampliando os horizontes muito além dos bancos escolares. Os quadrinhos europeus lhe impregnam influências incontornáveis, a música cria o clima para suas histórias, a cultura beat lhe serve de referência temática, com a observação cuidadosa das ambientações da rua, dos hábitos, do vestuário, elementos que enriquecem seu universo ficcional.
A expressão poética dos quadrinhos de Shiko, repletos de referências e inspirações literárias, associada à delicadeza de seu traço, representam um dos melhores expoentes dos quadrinhos brasileiros em sua feição impressionista.
Henrique Magalhães
Página do álbum "Marginal", de Shiko |
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