A falta de veículos para a publicação de quadrinhos brasileiros sem dúvida inibe a produção, que praticamente só encontra na autoedição o canal para chegar ao público. Um público pequeno, deve-se ressaltar, tendo em vista que um trabalho autoral e não comercial não pode ser feito em grandes tiragens ou contar com distribuição. Se esse quadro dificulta a publicação de histórias avulsas, imagine a veiculação de uma série, que demanda fidelização do público!

Esta aventura foi trilhada por Edgard Guimarães no aclamado fanzine QI (Quadrinhos Independentes), de sua autoria. Mundo feliz foi publicada originalmente em capítulos, nos números 50, 51, 53 a 65 do fanzine, de mai/jun de 2001 a nov/dez de 2003. O QI continua sendo uma das publicações mais regulares e longevas do meio independente brasileiro. Do formato repertório inicial, com a divulgação de grande parte do que se produz fora do mercado no país, o fanzine transformou-se numa revista mais abrangente, com artigos, críticas e publicação de quadrinhos. O espaço estava aberto para a criação da HQ em série, por Edgard.

O desafio de criar um capítulo a cada dois meses era instigante, já que no Brasil dificilmente se vive da produção de quadrinhos. Motivado, Edgard procurou uma forma de viabilizar sua ideia. Segundo o autor, a série foi planejada para que se desenvolvesse em capítulos de poucas páginas, com traço estilizado para não dificultar a produção em curto tempo.

Edgard afirma que embora o traço fosse “infantil”, seu objetivo foi criar uma série adulta. “O desenho exageradamente simples, num estilo próximo ao de Maurício de Sousa, aparentemente inocente, buscava contrastar com a violência do tema. Eu já havia feito esta tentativa em ‘Calvo' e ‘A Infância de Calvo', mas somente em ‘Mundo Feliz' consegui o resultado pretendido”, diz Edgard na apresentação do álbum lançado pela Marca de Fantasia.

O projeto original da série contava com episódios independentes, tendo como ponto em comum o título Mundo feliz. Contudo, logo que criou o primeiro episódio, Edgard vislumbrou uma história muito maior, que poderia ser dividida em dez capítulos. Foi um desenvolvimento natural de uma ideia genial, que mobilizou os leitores com repulsa, indignação e admiração. Mundo Feliz conta uma história da violência corriqueira, a que quase nos acostumamos a vivenciar sem estranhamento. Além dos dez episódios, foram criados mais cinco, publicados na sequência, fechando a história de forma exemplar.

Pouco se viu no país uma história em quadrinhos tão forte e inquietante quanto Mundo feliz. Com pouco texto, Edgard consegue contar toda a história, ao mesmo tempo com simplicidade e profundidade. O domínio da linguagem dos quadrinhos é espetacular, assim como a resolução dos desenhos, os enquadramentos, a sequência dos quadros. Mundo feliz é uma história violenta, mas de uma violência necessária, que nos leva a refletir sobre nossos conceitos mais arraigados.

Henrique Magalhães

 Mais álbuns de quadrinhos pela Marca de Fantasia
Tira Teima
Edgard Guimarães
Tiras diversas do autor.
Edição digital
Poeta Vital
Edgard Guimarães
O Poeta Vital aborda aspectos sociais em versos, mantendo a estrutura dos quadrinhos.
Edição digital
Ju & Jigá
Edgard Guimarães

O universo infantil descrito com sensibilidade.
Edição digital
Marginal
Shiko
HQ autorais de Shiko com referências literárias.
Edição digital
Cobra Sofia 
Rafael Senra
HQ inspirada no mito amazônico e no álbum de rock progressivo do autor.
Edição digital

Marca de Fantasia
Junho de 2022
Editor: Henrique Magalhães
Rua João Bosco dos Santos, 50, apto. 903A. João Pessoa, PB. Brasil
Cep: 58046-033. Tel (83) 998.499.672
  Pedidos por transferência ou depósito bancário:
  Banco do Brasil.
  Agência 1619-5, Conta 41626-6. Chave pix: (83) 998499672.
  Envie cópia do comprovante de depósito e o endereço para entrega.
  Contato: marcadefantasia@gmail.com -  https://www.marcadefantasia.com