Há públicos diferentes para diferentes séries de História em Quadrinhos no formato tira. Há um tipo de leitor que busca, em sua tira preferida, encontrar algo que seja familiar, algo que lhe dê o “conforto do conhecido”. É claro que é preciso que cada tira tenha uma piada diferente, mas não pode ser muito diferente, é preciso se manter dentro da expectativa do leitor. A sensação de familiaridade deve ser preservada.
Há, no entanto, outro tipo de expectativa perseguido por um tipo diferente de leitor. Há um leitor que, ao ler uma tira, quer ser surpreendido, quer encontrar o inesperado, ou ainda, quer ser contrariado em sua expectativa. Este leitor quer justamente conhecer coisas novas e corre o risco de entrar em ambientes não familiares. Aquela sensação de conforto é substituída pela sensação de descoberta.
Na série Macambira e sua gente, Henrique Magalhães escreve para este segundo tipo de leitor, mais crítico, mais exigente. Os personagens da série são tipos que frequentemente são discriminados pela sociedade, seja pela orientação sexual, seja pela opção profissional, seja pela opção religiosa. E embora o universo tratado na série não seja o usual nas tiras de quadrinhos, o que torna esta série diferente é a maneira como Henrique imprime personalidade em seus personagens.
Macambira, Rico, Anegadu, Lelê, Maçola, entre outros, são personagens com personalidades bem construídas, com comportamentos coerentes, mas capazes de surpreender com suas atitudes. Ler uma tira de Macambira é ir ao encontro do desconhecido, é não prever o desfecho da aventura, ou talvez seja, simplesmente, conhecer gente nova, fazer novas amizades. Macambira certamente é uma série diferente que pede sua apreciação a um leitor diferente. Que entenda a diferença.
Edgard Guimarães (leia o texto completo na apresentação do livro)
Tiras de Macambira e sua gente, de Henrique Magalhães |