O livro Katita: tiras sem preconceito, que reúne 86 tiras em preto e branco, escritas por Anita Costa Prado e ilustradas por Ronaldo Mendes, foi o grande responsável por sua autora levar para casa os troféus de Melhor Lançamento e Melhor Escritora de 2006 no 23º Prêmio Angelo Agostini. Um texto de apresentação assinado por Edgard Guimarães, Militância e Quadrinhos, abre a publicação falando sobre o trabalho de Anita.

Inspirada em situações do seu cotidiano, Anita criou Katita e os diversos personagens que convivem com a moça (estes inspirados em amigos da escritora) para trazer ao público de Quadrinhos uma mensagem de “não ao preconceito”. Com muito bom humor, a autora mostra a lésbica Katita, grande defensora dos homossexuais, “cutucando” em algumas tiras o preconceito contra as pessoas consideradas de baixa estatura ou fora do peso ideal. A personagem não tem papas na língua para expor sua opinião sobre machismo, programação de TV, o destino final dos preconceituosos, propaganda política recebida pelo correio, revistas de fofoca e fast food, entre outros assuntos “polêmicos”.

A grande maioria das tiras explora as preferências sexuais de Katita, que namora, admira e/ou “canta” as mulheres que encontra pela frente, mas também há piadinhas sobre gírias (peludinha, perereca, periquita), namoro por Internet, futebol, seios turbinados, comida, Parada do Orgulho Gay... Em Katita: tiras sem preconceito, os diálogos criados pela paulistana Anita Costa Prado encontraram seu par perfeito nos desenhos do cearense Ronaldo Mendes, que possui um traço limpo e agradável.

Além da qualidade dos textos e desenhos, o fato de não haver qualquer tipo de preconceito (apenas o combate a esse mal) nessas tiras criadas por Anita é motivo de sobra para que elas sejam conhecidas por um grande público, objetivo que começou a ser alcançado com a publicação desse livro. E talento é talento, não importando o sexo, cor, credo, tamanho, peso, idade ou grau de instrução (ou qualquer outra coisa) de quem o tem.

Humberto Yashima

Resenha publicada em http://www.bigorna.net/index.php?secao=lancamentos&id=1172638870, em 28/02/2007


 
Katita, de Anita Costa Prado, com ilustrações de Ronaldo Mendes

Um ano de glória para Anita

2007 começou de forma muito favorável para a editora Marca de Fantasia. De uma só vez o álbum Katita, tiras sem preconceito, de Anita Costa Prado & Ronaldo Mendes, ganhou em duas categorias do prêmio Angelo Agostini. Anita foi aclamada como a melhor roteirista de 2006 e o álbum, o melhor lançamento daquele ano. Em se tratando de produção de uma editora independente, que trabalha com recursos exíguos e com circulação restrita, torna-se surpreendente a premiação, reforçando ainda mais a qualidade e importância do trabalho de Anita.

Temos que considerar que o prêmio Angelo Agostini, atribuído pela AQC-ESP (Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo) com a participação de artistas, críticos e público, baseia-se na produção nacional, o que inclui a produção das editoras comerciais. Na premiação desse ano, o meio independente tornou-se protagonista, endossando a ousadia de nosso projeto editorial.

Katita não é, absolutamente, uma personagem comum. Tampouco uma personagem fácil, consensual. O universo da homossexualidade, que é seu tema central, é raramente abordado em nossos quadrinhos, e muito menos quando se trata da homossexualidade feminina. Lembremo-nos que o meio é dominado quase que exclusivamente pelos homens, e não raro percebemos um ranço machista em sua produção, em suas piadas, e mesmo em suas conversas informais do cotidiano. A presença de Anita e Katita nesse universo vem sacudir o marasmo do senso comum e provocar um certo grau de tensão.

Antes de Katita nós tivemos algumas incursões da personagem Maria, de nossa autoria, no universo lesbiano, seja explicitamente, no álbum Amor: a maior das subversões, de 1983, seja de forma sub-reptícia, nas entrelinhas de sua relação amigável e carinhosa com a personagem Pombinha. No entanto, é em Katita que a homossexualidade se mostra de forma mais vigorosa e espontânea, como um grito de afirmação da legitimidade de um desejo que, apesar dos ventos liberais que vivemos nos dias atuais, continua um sentimento enquadrado no cômputo das coisas malditas.

Anita trabalha com precisão esta contradição de nossa sociedade, que persiste em se resguardar moralista num mundo pleno de permissividade. As tirinhas de Katita são quase sempre irônicas em seu protesto contra a hipocrisia, a estupidez, a ignorância e todo gênero de preconceito. O humor tem esta capacidade eficaz de tocar em temas espinhosos sem chocar demasiadamente. É desta característica tão cara às tirinhas brasileiras que Anita tira proveito, dando vazão a sua veia ora militante, ora farrista, trazendo ao primeiro plano o amor entre as mulheres num mundo onde é comum as mulheres não passarem de companheiras dos homens, a ocupar um lugar secundário na vida real e em sua representação gráfica, nas histórias em quadrinhos.

Sem dúvida, o prêmio Angelo Agostini abre perspectivas e promove a exposição do trabalho de Anita. Contudo, muito antes da aclamação, Anita já demonstrava uma garra incansável para tornar sua personagem uma referência no meio de interesse homossexual e das próprias histórias em quadrinhos, participando de eventos, dando entrevistas, vendendo o álbum em livrarias e de mão em mão, no velho estilo da geração mimeógrafo. Este trabalho persistente foi também um passo decisivo para seu reconhecimento, o que contribuiu para também arrastar em sua projeção o nome da editora Marca de Fantasia. Por tudo isso, Anita é um exemplo de não acomodação, a fustigar tantos jovens e veteranos autores que se perdem em desânimo e lamentações.

Henrique Magalhães


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