O Sertão, com sua aridez, é o espaço geográfico e imagético mais representativo do Nordeste brasileiro. A partir do século XX a seca passou a representar simbolicamente a região, sendo que no cinema nacional o espaço da seca ganhou destaque. Os cineastas escolheram o Sertão para a composição de várias das narrativas que fazem parte da história cinematográfica brasileira.
Essa capacidade de representação, junto à verossimilhança inata, atribui ao cinema um poder autoritário enquanto produtor de sentido, operador discursivo e construtor de ideias. Dessa maneira, o cinema brasileiro instaurou uma dada visibilidade no imaginário social do país, propalou uma forma definida de pensar sobre a região, contribuiu para instaurar uma maneira singular de se observar o Nordeste através do espaço da seca.
Nesse contexto, o modo como o Sertão nordestino em seus períodos de estiagem é representado no cinema brasileiro dá margem para que se coloque a questão: o Sertão é coisa de cinema? Se for ou não coisa de cinema, o que interessa não é incriminar os cineastas por mostrarem a miséria da região. Eles têm lá seus motivos. Interessa, aqui, perceber a regularidade enunciativa com que se apresenta o Sertão árido e miserável nos discursos fílmicos, num jogo de imagens da secura nordestina no trajeto das produções.
Enquanto se percebem os enunciados, contempla-se, consequentemente, mais um estilo de filmes brasileiros: o Cinema da Seca. De maneira didática e concisa, este trabalho aponta como se constituiu o perfil do Nordeste como região da seca. Traça-se um levantamento de quando e como o Sertão começa a ser representado no cinema brasileiro, suas primeiras aparições, as quais reverberam o discurso em questão sobre a região Nordeste. Faz-se um levantamento de filmes que abordam essa temática em suas narrativas, em perspectivas diversas. Enfim, relata-se dois acontecimentos ocorridos na história do cinema nacional que contribuem com a reflexão sobre o tema da seca no cinema. Isto propõe, sobretudo, questões outras a respeito da visibilidade sobre o Nordeste, pois todo esse espaço geográfico e imaginário não se resume à seca. |