Os estudos narrativos podem ser considerados uma ‘libertação’ dos modelos discursivos científicos fixos, dos ‘paradigmas epistemológicos’. Na perspectiva narrativa, a sociologia, a antropologia, a psicologia são apenas histórias, com personagens, enredos, situações dramáticas. As escolas – funcionalista, marxista, psicanalítica etc. – também podem ser vistas como ‘meta narrativas’, como formas de ler e contar histórias. O importante é O que transmito do que me disseram (GOMES, 2016).
Isto não significa que os estudos narrativos sejam melhores ou mais abrangentes que outras modalidades de saber, mas que eles são transversais e complementares às outras formas de conhecimento. A narrativa é uma dimensão e não um objeto. Os próprios estudos narrativos também podem ser vistos como uma narrativa aberta ainda em construção; e as diferentes escolas de estudos narrativos (clássica, mitológica, estruturalista e hermenêutica) podem ser consideradas modelos meta narrativos de intepretação.
Este livro MetaNarrativas – Transgressões Interdisciplinares apresenta cinco momentos dessa liberdade meta narrativa, cinco rebentos dessa rebeldia transdisciplinar: o ensaio Será tudo mentira? Aforismos para uma genealogia da teoria(s) da(s) conspiração (2007); o artigo O dia em que mil gatos sonharem (2009); a análise de A vida de Jesus Cristo como narrativa (2011); Os hermeneutas: Habermas, Foucault e Morin (2014) e o texto Encantaria Moderna – princípios de feitiçaria midiática (2017).
A reunião de meus textos ‘malditos’ nesse livro, mais do que o desejo pela polêmica ou pela provocação aos meus críticos, representa as transgressões intertextuais que eu arrisco fazer. É o risco que me motiva e não a injúria (aos crentes já injuriados por si próprios). Aqui trata-se de desafios que fiz para mim mesmo e não para provocar aos outros. Eu me desafio a dizer a verdade, mesmo que tenha que mentir a dizê-la. Eu me desafio a recontar minhas histórias, comparando narrativas que me contaram. Eu me desafio a sonhar outro mundo com o encanto descolonizador dos feiticeiros.
MBG (excerto do prefácio)
MetaNarrativas: Transgressões Interdisciplinares
by Marcelo Bolshaw Gomes
Guilherme Smee's review
Um livro que envolve diversas análises narrativas, pesquisando várias histórias que envolvem a espécie humana desde o começo dos tempos, como por exemplo os elementos oníricos do sono e a história de vida de Jesus Cristo, ambos como narrativas. Dentro do contexto em que vivemos, a análise das narrativas da pós-verdade, das fake news na era da new sincerity, se faz muito importante para redefinirmos diversos conceitos de verdades e de mentiras.
O autor também traz um belo apanhado das transformações da hermenêutica enquanto abordagem de pesquisa, indo desde Ricoueur a Levy e Thompson, passando por Foucault e Deleuze. Mas a análise que eu mais gostei e que mais me marcou foi a das encantarias, voltada para o fetiche da mercadoria como um feitiço e da perda de significado e diferenciação entre duas palavras que, a princípio, eram uma.
Este último texto dá muito em que pensar. Principalmente se formos em direção aos produtos derivados da cultura pop onde a exclusividade e os itens artesanais e diferenciados tomam aquele valor gourmetizado, fetichizado dentro da encantaria do feitiço que a mercadoria pode trazer às nossas almas através da visão e do tato. Publicado em https://www.goodreads.com/review/show/2575382073?book_show_action=false&from_
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Em 17/12/2018 |