Coerente com essa tradição documentarista paraibana – uma espécie de vocação já apontada por vários pesquisadores e estudiosos do cinema paraibano – é que o Decom volta nessa primeira metade do novo século a ser é o epicentro de uma nova efervescência audiovisual, favorecendo o surgimento de mais uma geração focada no documentário e se arriscando no terreno da ficção.
Inicialmente através de uma modesta mostra de vídeo, de consumo interno, em 2003, e que dois anos depois ganha nova nomenclatura e dimensão nacional. É o Fest-Aruanda do Audiovisual Universitário Brasileiro, cuja primeira edição ocorreu em dezembro de 2005, e que adquire caráter nacional com a inclusão da categoria produção de tevês universitárias/educativas do país.
Como não poderia deixar de ser, é o antológico filme do cineasta paraibano Linduarte Noronha quem se presta a nomear com muita honra o primeiro e efetivo festival paraibano. A idéia da primeira edição do evento - realizado em dezembro de 2005 - dentro da programação do Cinqüentenário da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), partiu do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Produção Audiovisual (Neppau), com apoio da Chefia do Departamento de Comunicação e Turismo (DecomTur), e co-realização do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) e Reitoria da UFPB.
O Fest-Aruanda proporciona em suas linhas gerais um efetivo e profícuo intercâmbio das várias vivências audiovisuais, normalmente destinadas ao consumo interno das respectivas instituições de ensino superior nas áreas da ficção, documentário, animação, produção de TV, videoclipes e peças publicitárias de instituições públicas e privadas que são vistos e julgados tanto por uma comissão técnica quanto pelo grande público que prestigia o festival.
Seminário
Além disso, o festival se propõe a ser um espaço de reflexão teórica em torno do cinema documentário através de seminários, mesas-redondas e debates com personalidades ligadas ao cinema brasileiro, sejam docentes e/ou teóricos universitários como Jean-Claude Bernardet (ECA-USP), jornalistas como Maria do Rosário Caetano (Revista de Cinema), Luiz Zanin (crítico de cinema do jornal Estado de São Paulo ), assim como documentaristas do porte de um Sílvio Da-Rin, Linduarte Noronha, Evaldo Mocarzel e Beth Formaginni que tiveram participações nas duas últimas edições (2005-2006).
Contemplado na presente publicação estão alguns registros das participações de Jean-Claude Bernardet, Sílvio Da-Rin, Linduarte Noronha e Maria do Rosário Caetano, sendo esta última curadora do evento em 2006. Tiveram participação ainda os professores João Batista de Brito, Bertrand Lira, Pedro Nunes e Shirley Martins, mais o jornalista e pesquisador Wills Leal e a documentarista e produtora Beth Formaginni.
O seminário e os textos aqui reunidos refletem tal dimensão reflexiva, enveredou pelos caminhos de Aruanda, seu viés ficcional e as implicações de tais dispositivos na história do gênero a partir de sua gênese, estabelecendo nexos ou pontes entre Nanook (Flaherty) e Aruanda, via Linduarte. São recortes consistentes da história do documentário que se cruzam com o ciclo documentarista paraibano e suas repercussões no cinema novo que será inventado na década de sessenta.
Longe de quaisquer resquícios de ufanismos estéreis e desprovidos de rigor analítico, o que os leitores terão a disposição são algumas lúcidas e provocativas contribuições teóricas que jogam, fundamentalmente, luzes sobre o papel do documentarismo paraibano no contexto nacional e, sobretudo, o quanto esse debate continua na ordem do dia. Afinal, há sempre um elemento novo a ser descortinado nos filmes, ainda que sejam clássicos como nos ensina Jean-Claude Bernardet. Lúcio Vilar |