O trabalho de Angeli tem suscitado inúmeras investigações acadêmicas, o que confirma a importância de sua criação. Autor de incontáveis e marcantes personagens das tiras humorísticas brasileiras, foi com Rê Bordosa que Angeli criou um vínculo indissociável com seu público, a ponto de, mesmo tendo matado a personagem, ter que retomá-la, numa espécie de memorial ou diário.
O livro de Yuri Saladino, oriundo de sua dissertação de Mestrado, debruça-se sobre a obra de Angeli para estudar a construção artístico-cultural expressa nas histórias em quadrinhos de Rê Bordosa e, por meio delas, refletir sobre o projeto político e cultural do autor. Rê Bordosa surgiu em 4 de abril de 1984 na série de tiras em quadrinhos Chiclete com Banana, do jornal Folha de S. Paulo, tendo como cenário o universo urbano paulistano da década de 1980.
Para Yuri, a personagem é uma sátira sobre o gênero feminino pós-Revolução Sexual, que tinha como pano de fundo um ambiente social bastante efervescente em termos sócio-culturais. O universo “angeliano” do qual Rê Bordosa faz parte reflete sobre esse período, quando o debate entre a modernidade e a pós-modernidade estava na ordem do dia.
Yuri reforça que o cotidiano no qual a personagem se insere é marcado pela crise dos valores modernos e pela fragmentação das identidades culturais que refletia o deslocamento do sujeito moderno e a valorização do momento presente e do hedonismo. Nesse sentido, o estudo reflete em que medida e por qual direcionamento esta personagem, enquanto construção artístico-cultural, representou uma crítica social frente ao contexto dos anos 1980 no Brasil.
Como afirma o autor, a pesquisa discute o caráter crítico do projeto artístico de Angeli, bem como situa Rê Bordosa a partir dos seus diálogos, seu comportamento e seu modo de vida: “Procuraremos analisar a personagem Rê Bordosa como sendo uma problematização sobre esse contexto social e suas tensões culturais”, conclui Yuri. H. Magalhães |