A primeira edição do livro, lançada em 2007, aborda o personava o Capitão América numa trajetória que vai de sua cração, em 1941, até a deflagração da Guerra Contra o Terror, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América. Em 2018, Daslei retorna a sua obra atualizando a trajetória do personagem frente aos desafios enfrentados pelos Estados Unidos como consequência de sua atuação intervencionista.
A guerra é vista como um acontecimento radical que altera as linguagens midiáticas, influenciando a audiência – dentre elas a das histórias em quadrinhos – em tempos de conflito. Daslei vai buscar nos teóricos da comunicação Armand Mattelart e Paul Virilio o referencial que aponta para a correlação entre a experiência da guerra e a evolução dos processos midiáticos.
O Capitão América é um ícone da nação estadunidense encarnando os símbolos de patriotismo. Para o autor, o projeto ideológico da editora Marvel, responsável pela publicação do personagem, sofreu várias transformações, como se evidencia no pós-guerra dos anos 40, durante os anos da Guerra Fria, a Guerra do Vietnã e após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Os ataques terroristas abalaram não só os Estados Unidos da América, mas também o personagem, de maneira fictícia e literalmente. Criado para preservar os princípios liberais e democráticos, ele reaparece no cenário do capitalismo global fazendo prevalecer a ordem hegemônica. Mas, se durante os anos da Guerra Fria ele tinha um alvo concreto de luta, após o 11 de setembro teria de combater um inimigo invisível, numa experiência ideologicamente nomeada Guerra Contra o Terror. Frente a uma realidade que beira o caos, como um herói de história em quadrinhos poderia lidar com isso? Como suas histórias continuariam a chamar atenção depois de tanta desgraça? Daslei Bandeira tenta responder essas questões e procura entender o que realmente é um herói. Mostra como um herói de papel foi rebaixado a patamar humano para poder sobreviver comercialmente; explora as significações do personagem Capitão América no contexto de uma nova (des)ordem mundial, que mostra o império americano atingido no centro de sua expressão política e financeira. |