Este trabalho sobre os quadrinhos paraibanos se insere numa perspectiva historiográfica com atenção voltada para a produção periférica, aquela que se desenvolveu a partir dos eixos alternativos e independentes em todas as regiões brasileiras e foi redigido numa parceria entre os autores, durante o desenvolvimento de projeto de pós-doutoramento realizado junto ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Além disso, tem relação mais ampla com as discussões e a preocupação comum de seus autores e do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP com o esforço de pesquisa necessário para dimensionar a produção nacional. Apesar do caráter parcial e lacunar buscamos contribuir com novas análises e incentivar outras pesquisas acadêmicas sobre a rica produção paraibana.
Uma apresentação desse tema inclui, necessariamente, o reconhecimento de que a produção de quadrinhos brasileiros quase sempre foi resultado do esforço e do idealismo de artistas cujas melhores chances no mercado editorial nacional se encontram na região Sudeste, que, em decorrência do seu maior desenvolvimento econômico lidera sua edição e distribuição (especialmente São Paulo e Rio de Janeiro), e acaba por propiciar visibilidade aos artistas mais conhecidos do país, como Maurício de Sousa e Ziraldo Alves Pinto, entre outros.
Nesse sentido, é possível estabelecer como pressuposto a frágil inserção dos quadrinhos de regiões menos desenvolvidas do Brasil, tanto no mercado mundial como no mercado interno, historicamente dominado pelo produto estrangeiro da vertente mainstream, em especial os quadrinhos infantis, capitaneados pelo universo Disney, e as aventuras de super-heróis da Marvel e da DC Comics.
Busca-se, aqui, discutir o percurso histórico da produção de quadrinhos da Paraíba, estado do Nordeste do Brasil, a partir de sua primeira manifestação até o final do século XX, como contribuição à necessária investigação das expressões locais e regionais da produção de quadrinhos brasileiros. Assim, destacaremos algumas das iniciativas mais férteis, cuja continuidade manteve a produção paraibana no cenário da história em quadrinhos (HQ) nacional.
As questões econômicas que impactam o mercado das artes é a primeira questão a considerar quando se busca compreender as situações específicas, e nas regiões economicamente mais vulneráveis do país, como o Nordeste, os estados com baixo nível de industrialização, como é o caso da Paraíba, se ressentem de condições para a produção artística em diversas áreas, entre elas, os quadrinhos. A falta de interesse e investimentos privados diretos, os limites do mercado consumidor, a insuficiência e descontinuidade dos financiamentos estatais, dificultam a vida dos produtores. As condições precárias, por seu turno, desestimulam os artistas locais, num círculo vicioso perverso. A existência e persistência da 9ª arte nessas condições adversas e seus méritos qualitativos na vertente independente tornam essa produção um fenômeno importante. Regina Behar & Waldomiro Vergueiro |