Este ensaio foi escrito no início da década de 2000 e lançado às nossas próprias expensas. Agora, ele volta à luz, graças ao trabalho do editor Henrique Magalhães, da Marca de Fantasia, que releu o trabalho e se interessou em lançá-lo através de sua editora. A pretensão não é fazer um apanhado geral daquilo que de melhor foi lançado no Brasil por ocasião do boom, mas se debruçar sobre a obra de três roteiristas em particular, cujas obras foram muito importantes para a futura definição daquilo que viria a ser reconhecido no futuro das HQs americanas como "quadrinhos adultos". Um é americano e, além de roteirista, é também desenhista. O outro escocês e o terceiro, britânico.
Frank Miller, o americano, deu o chute inicial com Batman – The dark knight returns. Após fazer uma das melhores estórias do Batman, claro, ele “pisou na bola” e trouxe à luz, A Volta do Cavaleiro das Trevas, uma série em três edições cheia de pretensão, mas pavorosa em sua concepção. Aliás, vergonhosa, mesmo. Não foi à toa que a divisão de quadrinhos da Editora Abril jogou a toalha logo após lançá-la por aqui, em 2002. Antes de Miller inovar e, depois, dar para trás, entretanto, o britânico Alan Moore já quebrara várias barreiras com sua versão para Swamp Thing (O Monstro do Pântano), criação original de Len Wein e Berni Wrightson. Pouco depois, o escocês Grant Morrison pegaria todas estas tendências e lhes daria um toque dadaísta e surreal, com títulos como Doom Patrol (A patrulha do destino) e Animal Man (Homem-Animal).
Todos estes personagens podem soar, e parecer fisicamente, apenas como super-heróis destinados a fazer a alegria das crianças e adolescentes até 15, 16, 17 anos para, logo depois, serem esquecidos. Mas a coisa não era bem por aí.
Nas mãos desse pessoal, Batman, Miracleman, Ronin, o Coringa, Duas Caras, gente que os quadrinistas sempre conheceram muito bem, provaram que eram poços de insegurança muito mais profundos do que supunham os leitores de HQs. Uma insegurança que se faz presente em nenhum outro lugar que não nosso próprio eu interior. Trecho da apresentação do livro, por Marcio Salerno |