É com ele que eu vou!
H. Magalhães, 06/02/2025
Desde 1990, quando demos origem - eu mais um grupo de amigos - ao bloco carnavalesco Cafuçu, na Parahyba, tentei criar uma identidade visual que representasse o perfil do bloco, algo como um sujeito asselvajado, meio rude, meio pitoresco, uma imagem referente aos tipos populares que circulam na periferia de qualquer cidade. O “cafuçu”, naturalmente, é bem mais que isso, transcende formação acadêmica e classe social, espraiando-se por todos os vieses culturais desse país miscigenado.
Mas em 1992, entre a Parahyba e Paris, onde estive fazendo doutorado, dei forma a uma figura que acabou ilustrando o estandarte do bloco naquele ano. Era uma caricatura que até poderia ser tida como preconceituosa, não fosse uma imagem tão comum do cafuçu na visão de todos nós.
Além do estandarte e de camisas - vendidas para ajudar no financiamento do bloco - resolvi fazer algumas tiras e uma história em quadrinhos de oito páginas com o tema carnavalesco e a promover uma campanha de conscientização e prevenção a doenças sexuais com o uso de camisinha, tema sensível e adequado aos excessos da folia.
A HQ formava uma pequena revista no formato cordel, ou postal, que poderia ser distribuída aos foliões ou mesmo usada em diversas atividades culturais e escolares. Com a “boneca” em mãos, corri à Pró-Reitoria de Assuntos Culturais da UFPB para oferecer minha obra, que foi rejeitada por conter cena de sexo explícito - na verdade, era apenas uma cena de como colocar a camisinha, naturalmente em um pênis ereto, algo bem direto e pedagógico.
Recorri, então, à Secretaria de Saúde do Estado, que declinou do projeto pelo mesmo motivo. Foi muito surpreendente o moralismo de quem devia zelar pela saúde coletiva, ainda mais em um momento de expansão do vírus HIV-Aids.
Os poucos exemplares que imprimi circularam entre amigos. Mas a revista continua de uma atualidade cabal, motivo porque decidi compartilhar a edição fac-símile da história do Cafuçu com seu companheiro de farras Rico, personagem que fazia as vezes de meu alterego.
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Páginas da revista Cafuçu, de Henrique Magalhães |
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