A transcendência de silício
(Um editorial tecnognóstico)
A transcendência de silício Um editorial tecnognóstico Raios catódicos como rituais canônicos, gnose algorítmica, telecinésia telemática, mitos vindos de modems, vírus com nomes de moças. Sabá dos elétrons, meditação telemítica, Novos cultos imateriais, velhos orgasmos virtuais. Chips-crucifixos, e-mails-hóstias, igrejas de silício. Novos olhos de vidro, velhos desejos submersos. Cada vez mais como insetos: hipnotizados pela luz. Na busca renovada de transcender a matéria através de seu maior símbolo: pedra (silício), pepita cibernética, alucinógeno virtual de nossa neotranscendência sintétita.
Edgar Franco
Artlectos e Pós-humanos 3
Se há o que podemos chamar de quadrinhos autorais por excelência, isto é o que podemos dizer da obra de Edgar Franco. Egresso dos fanzines desde a década de 1980, Edgar alcançou vôos impensáveis para quem labuta nesse meio. O trabalho de Edgar pode ser encontrado em álbuns independentes de sua própria lavra e pela editora Marca de Fantasia, além de publicações comerciais, como o álbum BioCyberDrama, em parceria com Mozart Couto, lançado pela Opera Graphica.
Com o tempo, o trabalho de Edgar ultrapassou o universo dos quadrinhos, chegando à música eletrônica. Ele só formando toda uma banda, criou o Posthuman Tantra, compondo o ambiente sonoro para suas histórias em quadrinhos. Mais precisamente, para suas HQtrônicas, espécie híbrida de Histórias em Quadrinhos com recursos eletrônicos. Essa linha de pesquisa unindo HQ e novas tecnologias foi a base de sua carreira acadêmica, gerando a tese HQtrônicas: do suporte papel à rede Internet, que se transformou em livro lançado pela Fapesp e Annablume.
No tocante aos quadrinhos, desde cedo Edgar desenvolveu um traço muitíssimo particular para um gênero de HQ que se denominou de Quadrinhos Poéticos, ou Fantasia Filosófica. Nos fanzines autopublicados e em particular na revista Tyli-Tyli/Mandala, lançada nos anos 1990 pela Marca de Fantasia, o trabalho de Edgar destacou-se por seu conteúdo transcendental, quase sempre inquirindo sobre o futuro do universo e sobre o próprio destino da espécie humana. No mundo imaginário de Edgar o futuro inequívoco de é a transmutação do homem em máquina, onde o corpo se tornaria obsoleto e a mente e sua memória seriam armazenadas em um chip, a animar um ser robótico.
Lançada inicialmente pela SM Editora, de José Salles, a revista Artlectos e Pós-Humanos chega ao número 3 sob a chancela da Marca de Fantasia. Em sua publicação exclusiva Edgar dá asas à criação indo a fundo em seu universo mítico e reflexivo, radicalizando numa linguagem textual e visual inconfundível em nossas Histórias em Quadrinhos.
Henrique Magalhães
Artlectos e Pós-humanos #3
Por Matheus Moura
27/04/2009
Ler Edgar Franco é sempre uma surpresa. Não me recordo de nenhum material dele que seja simplista. O autor consegue, invariavelmente, tocar em pontos obscuros da vida humana de forma reflexiva e sem ser demagogo. Isso se repete no terceiro volume da série Artlectos e Pós-Humanos, desta vez publicado pela editora Marca de Fantasia.
Nos volumes anteriores (#1 e #2) Edgar já trazia alguns temas correlacionados. Neste novo lançamento não é diferente. Porém agora o assunto principal é sexo, e por consequência, criação e morte. Já dá para perceber a inclinação sexual pela capa: um vermelho profundo, quase sanguíneo, sem contar a mulher semi-nua. As histórias são Redesign, Tecnognose 2.0, Gênesis Revisto, Arbítrio, Ninfa 2.0, Nanquim, Terra e 333 (publicada originalmente na revista Camiño di Rato ), Oração do Transbiomorfo (a maior história da revista). Uma observação interessante é que quando Edgar nomeia algo com 2.0, ele está fazendo uma releitura ou referência de algo já existente, como por exemplo a Ninfa. No caso da tecnognose , seria ela uma evolução da gnose atual.
Em termos narrativos, para mim o ponto alto ficou com a HQ Gênesis Revisto. Em uma página sem quadros Edgar consegue dar a dinamicidade e a linha de leitura no ponto certo, sem deixar o leitor confuso ou sentindo falta das tradicionais divisões de quadros. Em suma, mais uma vez é um trabalho de vigor e que merece ser apreciado. Melhor o será caso o leitor tenha contato com as revistas anteriores ou obras mais antigas do autor, se não, corre o sério risco de vagar a esmo em um campo desconhecido e espinhento. Vale a pena acompanhar Artlectos e Pós-Humanos. In http://www.bigorna.net/index.php?secao=lancamentos&id=1240799041 |