Postais de viagem inicialmente se chamaria "Pogo in Togo", com base no ensaio sobre vodu realizado por Teresa Câmara Pestana em sua estada na costa oeste africana. Para não acentuar o lado descritivo do trabalho, a autora ilustrou-o, reduziu o texto ao mínimo e atribuiu-lhe uma narrativa própria às histórias em quadrinhos. Assim nasceu Postais de viagem, história repleta de elementos antropológicos, particularidades culturais traduzidas em postais que nos enlevam numa grande aventura humana, como nos aponta a introdução da obra.
“Há sete anos recebi pelos Correios um pacote, vindo do Togo, com duas cassetes de música tradicional, uma boneca de madeira com três cabeças, ressequidas nozes de cola e um maço de postais artesanais escritos no verso. No saco que tudo envolvia estava escrito: ‘esta vida mata-me, qualquer outra que eu escolha mata-me também e assim alegremente apodrecendo vou a caminho de Dahomey. A. C.’
A. C. nunca regressou, foi dada como desaparecida, morta ou absorvida pela cultura local (o que é muito menos raro do que podemos supor. Andou pelo Togo, Benin, Gana e Nigéria. Sabemos também que andava nos transportes locais, a pé e mais tarde alugou uma enduro no Togo, a qual foi encontrada na magnífica zona de Aktapamé. Esse foi seu último registro.
Passaram-se mais cinco anos e como ninguém se interessou pelos ‘postais de viagem’, nem sequer o inspetor da Justiça que, a contragosto, foi à famosa costa africana, resolvi, em nome da protagonista, editar este pequeno tributo à linha do horizonte.”
A partir de sua experiência pessoal, podemos encontrar na personagem que narra a história em primeira pessoa a personificação da própria autora. De forma fluente e instigante, Teresa nos leva a descobrir uma África pouco conhecida na cultura ocidental predominantemente judaico-cristã, ao menos em sua intensidade e estranhamento, apesar de tão imbricada na cultura popular miscigenada das colônias do continente americano.
Teresa Câmara Pestana nasceu em Portugal, cresceu em Moçambique e morou no Togo. É alma matter do extinto Gambuzine, que ganhou dois prêmios no Festival de BD de Amadora de melhor fanzine e chegou a ser indicado em Angoulême. Participou da exposição Tinta nos Nervos no museu Berardo e ilustrou para o Museu de Serralves o catálogo da exposição To whom who keeps a record. Postais de viagem, lançado originalmente pela autora, valeu-lhe exposição individual no festival internacional de BD de Beja e excelentes críticas.
Henrique Magalhães
Páginas de Postais de viagem, de Teresa Câmara Pestana |
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