Com grande alegria aceitei escrever o prefácio do novo livro do Dr. Antonio Genário Pinheiro dos Santos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Trata-se de um livro que, ao mesmo tempo, é fruto de sua tese doutoral, realizada com louvor na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e dá continuidade às discussões realizadas em O espetáculo de imagens na ordem do discurso: a política americana na ordem nas lentes da mídia, publicado pela Editora Kiron em 2012.
No presente livro o autor defende a tese de que, nas campanhas eleitorais dos Estados Unidos, nos anos de 2008 e 2012, o presidente americano, Barack Obama, foi subjetivado pela mídia de forma a ter sua imagem pública política construída discursivamente, na ordem de determinados regimes de verdade. Nessa operação discursiva, a mídia mobilizou trajetos de sentido e efeitos de saber/poder, produzindo o deslocamento da imagem do sujeito-presidente, fazendo-o oscilar do messias divino ao martírio do mundo, da esperança global ao vendedor de sonhos.
Esta tese é alicerçada pela Análise do Discurso Francesa (ADF) e fundamentada pelas ideias do pensador contemporâneo Michel Foucault. Tanto as teorias formuladas pela ADF como as pesquisas desenvolvidas por Michel Foucault, entre as décadas de 1950 e 1980, visam investigar e compreender como, em plena modernidade, são construídos e reelaborados os mecanismos de poder e de sujeição. Mecanismos que, na sociedade contemporânea, não tem por missão construir ou apresentar a verdade, mas em criar uma ilusão da verdade, os chamados regimes de verdade.
Para Michel Foucault os regimes de verdade – e não a verdade em si mesma – estão relacionados às diversas formas de construção do enunciado. Logo o enunciado que está ligado à memória e, por isto, é relacionado com a repetição e se liga ao passado e ao futuro.
Antonio Genário Pinheiro dos Santos consegue utilizar, numa perspectiva foucaultiana, a relação entre os regimes de verdade, o enunciado e a memória para investigar as campanhas presidenciais americanas de 2008 e de 2012, as quais conduziram Barack Obama à presidência da república. Por meio desta tríplice relação conclui-se que os regimes de verdade e as estratégias discursivas mobilizadas para subjetivar Obama, inscreveram, por meio da memória, a questão da necessidade coletiva pela intervenção de um líder “virtuoso”, posições-sujeito ligadas à historicidade da condução da vida pública, as quais foram trabalhadas no seio de uma oscilação entre efeitos de positivização e negatividade. Tudo isso no escopo de uma religiosidade, que polarizou ordem e caos, e com o propósito de uma justificativa social para se promover o bem e dar sustentabilidade à vida.
O livro de Antonio Genário Pinheiro dos Santos é uma ótima leitura, para estudantes e pesquisadores na área de Letras e das demais áreas das ciências humanas, de um lado, para ter uma visão das preocupações teóricas contemporâneas da Análise do Discurso Francesa e, de outro lado, como essas preocupações podem ser utilizadas, de forma concreta, para investigar problemas e fenômenos sociais, como as eleições presidenciais americanas, que afligem o ser humano. Ivanaldo Santos (prefácio ao livro) |