Maria em mim
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Henrique Magalhães
17/08/2024
A série Bastidores do humor costuma apresentar o processo criativo por trás da elaboração das tiras de Maria. Com esse episódio, mostro como a personagem faz parte indissociável dos bastidores de minha vida.
Maria surgiu em 1975 quando eu tinha 17 anos, era ainda um adolescente. Ela já nasceu combativa, lutando contra o descaso e o preconceito contra a mulher. Maria não esperava acontecer, ía à luta pela conquista de seu desejo amoroso.
Com minha entrada na Universidade, em 1976, Maria sofreu uma verdadeira revolução, passou a enfocar de forma crítica e radical os desmandos do poder autoritário do período, bem como os conflitos sociais. Mais adiante, com a “abertura política” que levou ao processo de volta à democracia, ela passou a tratar de temas sensíveis das minorias sociais, como a luta feminista, o racismo, a causa indígena e a discriminação à homossexualidade, como reflexo sobre a própria vivência do autor.
Maria esteve presente na luta pelas “Eleições Diretas já!” e nunca deixou de refletir sobre a política estrutural e a do quotidiano.
Foi com a publicação de suas revistas, nos anos de 1970, que aprendi os meandros do processo editorial. Isso me levou a não só produzir livros, revistas e fanzines, mas a estudá-los no meio acadêmico. A partir dessa experiência, fiz Graduação em Jornalismo na UFPB, Mestrado em Ciências da Comunicação na USP e Doutorado em Sociologia na Universidade Paris 7. Uma grande trajetória na pesquisa, completada com o ensino em Comunicação na UFPB.
Além da autoedição, Maria tem três álbuns lançado em Portugal pela editora Polvo, uma das mais renomadas do país, sob o comando de Rui Brito. Uma dessas edições ganhou o prêmio de melhor publicação de humor no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, certame que tem grande prestigio no meio.
Maria voltou ao confronto político com a ascensão do fascismo no Brasil, em 2018. Foram anos de luta contra o absurdo e o obscurantismo, marcando sua atualização e conquista de um novo público geracional, por meio da internet. Maria sempre se renova porque segue a própria transformação de seu autor.
Ao fazer 67 anos de vida e prestes a completar 50 anos de minha criação, Maria continua viva e forte em mim, e seguirá comigo enquanto houver razão e prazer.
Assista ao vídeo no YouTube: https://youtu.be/As8CHp_3hQU |