Relicário Mais   

Bastidores do humor: tiras casadas

 

Henrique Magalhães
10/06/2024

Há muitas formas de se analisar as histórias em quadrinhos e em particular as tiras humorísticas. Hoje vamos tratar das tiras casadas. Você sabe o que significa isso?

Esta semana fiz duas tiras que falam sobre os rótulos que aparecem em alguns produtos nos supermercados, que dizem: Alto em gordura saturada; Alto em acúcar adicionado. Ao ver isso, Maria fica revoltada porque dessa forma se sente constrangida ao adquirir os produtos que gosta de consumir. Maria entende que esse tipo de alerta pode contribuir para o consumo consciente, mas considera também que é uma forma de a indústria e o governo fazerem uma transferência de responsabilidade para o consumidor.

Na segunda tira, Pombinha reclama de Maria, que é muito alarmista; diz que essas legendas servem para a educação alimentar das pessoas. Maria concorda, mas diz que só acredita na sinceridade da campanha quando nos rótulos também figurar “Alto em preço atribuído”, em uma crítica à desfaçatez das empresas.





Exemplo de tiras casadas

É muito comum que a partir de um tema se possa desenvolver uma série de tiras, o que chamo de “tiras casadas”. Elas exploram um motivo inicial, uma ideia espirituosa por vários ângulos, utilizando a dinâmica das personagens. As tiras podem ser casadas, mas, digamos, em um casamento aberto, já que cada tira deve ter autonomia. Não convém fazer as tiras dependentes umas das outras, pois se o leitor deixar de ler alguma delas, as outras podem soar incompreensíveis.

Ao ler a segunda tira, uma amiga comentou que acordou meio sonolenta e não conseguia entender. Falei que não ia explicar, pois que seria uma prova que a tira não funcionou. Então compreendi que na segunda tira, por restrição de espaço deixei de citar explicitamente as legendas nas embalagens dos produtos e falei das consequência, a obesidade e o diabetes, o que não foi suficiente para fazer a associação.

As tiras casadas podem ser independentes, mas não ao ponto do sacrifício de sua compreensão. Cada tira deve conter os elementos textuais necessários para produzir a gag, o efeito de humor.

Por outro lado, a tira não precisa ser fácil, deve exigir do leitor um certo grau de racionalidade para sua compreensão. A tira se completa com fruição do leitor, que deve completá-la com a atribuição de sentido. Há uma comunhão entre autor-personagens-leitor para a construção do humor.

A leitura da tira é como a visualização de imagens em 3D, em que se força um pouco a vista para enxergar o que está oculto. Com a tira humorística ocorre o mesmo, o sentido encontra-se subjacente, como nas imagens em estereoscopia.

O vídeo está disponível no YouTube por intermédio do link
https://www.youtube.com/watch?v=8JK8V5cc5Mk


Marca de Fantasia
Junho de 2024
Editor: Henrique Magalhães
  Rua João Bosco dos Santos, 50, apto. 903A. João Pessoa, PB. Brasil
  Cep: 58046-033. Tel (83) 998.499.672

  Contato: marcadefantasia@gmail.com -  https://www.marcadefantasia.com