Bastidores do humor: argumento nenhum

Henrique Magalhães
26/05/2024

O processo de criação quase sempre é tido como algo mágico, que arrebata o artista e que lhe dota, como a um iluminado, de um vislumbre etéreo, que com habilidade ele consegue transformar em uma obra tangível, admirável em sua fruição. Mas, quase sempre não é nada disso que ocorre; o processo criativo depende do repertório do artista, do conhecimento e vivência acumulados em sua existência e transformados em expressão sensível e comunicante.

Criar tiras de quadrinhos, sejam humorísticas, poéticas ou filosóficas, ou as três categorias juntas, depende tanto da sensibilidade - para não dizer “inspiração” -, quanto de um processo racional de elaboração, de construção de sentido, visando a ruptura do senso comum. Esse processo resulta em algo inventivo, provocante, contestador ou mesmo lírico, de um lirismo que surpreende o leitor, que o faz deixar-se levar pelo fluxo transcendente da tira.

Mesmo que não se tenha uma ideia clara, um argumento forte e maduro, é possível usar essa aparente fragilidade para criar, rompendo a inércia do pensamento e propondo um jogo linguístico com os elementos estruturais dos quadrinhos, bem como com as características das personagens. Esse estratagema utilizei na elaboração da tira “Expressão”, de Maria, que circulou nas redes sociais e por intermédio de email.

No vídeo que apresento em anexo descrevo o processo de criação dessa tira, os impasses criativos e as soluções para sua elaboração. Como uma pequeno laboratório sobre a feitura de quadrinhos, faço dele também um momento para minha própria reflexão. Tomara que sirva de algum modo para você.

O vídeo está disponível no YouTube por intermédio do link https://www.youtube.com/watch?v=0YkzrnYKzmA