Relicário Mais   

José Ruy

Uma história de amor e dedicação à HQ

A longevidade do fanzine QI já é algo extraordinário em nosso fandom, assim como o seria no cenário profissional de edição no Brasil. Trabalho abnegado de seu editor, o quadrinista e pesquisador Edgard Guimarães, o fanzine é uma referência incontornável a todos os que têm interesse pela HQ, em particular pela produção independente. Desde 1993 Edgard vem editando bimestralmente sua publicação, com regularidade e melhoramentos constantes.

De pequeno boletim que servia à guisa de recenseador dos fanzines lançados no país - inicialmente chamava-se “Informativo de Quadrinhos Independentes”, hoje apenas “Quadrinhos Independentes”-, o fanzine foi ganhando corpo até se transformar em uma revista que varia entre 36 e 44 páginas, com quadrinhos, ilustrações cartuns, artigos, resenhas, informações e muitas, muitas cartas em que os leitores contribuem com verdadeiros dossiês sobre os bastidores dos quadrinhos no país e no mundo.

Um dos frequentadores assíduos das páginas de missivas do QI foi o quadrinista português José Ruy - sim, o fanzine costuma ultrapassar as fronteiras tupiniquins e encantar também os irmãos lusos. Além de correspondente sagaz, José Ruy contribuiu com alguns importantes textos monográficos sobre autores e aspectos da BD (como são chamadas as HQ em Portugal, ou Banda Desenhada). Esses textos transformavam-se, pelas mãos de Edgard Guimarães, em encartes ao seu fanzine, que ele vai criando aos borbotões, tal é a dinâmica frenética dos leitores do QI, evidentemente motivados pelo caprichado trabalho desenvolvido no fanzine.

Em 23 de novembro de 2022 faleceu José Ruy causando comoção na cultura portuguesa. As HQ no país europeu têm status de arte há muito anos e conta com uma produção editorial de fazer inveja a nós brasileiros. Se eles não tiveram um vigoroso mercado de fascículos em bancas, desde cedo dedicaram-se às narrativas longas, a ser publicadas em forma de álbuns.

O trabalho de José Ruy é um dos mais importantes testemunhos da qualidade da HQ portuguesa, que projetou-se inclusive em nível internacional. Dono de uma profusão de álbuns de caráter histórico e de aventuras, José Ruy é uma prova de que a formação humana de solidez cultural, o incrível talento para as artes gráficas e narrativas sequenciais fazem brotar uma obra consistente e fundamental, malgrado as dificuldades da cena.

José Ruy nasceu na Amadora, cidade situada na região de Lisboa, em 9 de maio de 1930. Por anos enfrentou a censura da ditadura salazarista, esteve em atividade até o último momento criando, pensando e refletindo sobre quadrinhos, publicando em editoras do mercado sem nunca deixar de olhar com carinho e atenção ao meio independente, que fomenta a inquietação dos jovens e novos autores de todas as idades.

Com uma pesquisa meticulosa e precisa, Edgard Guimarães presta uma homenagem afetuosa a José Ruy, dedicando-lhe um opúsculo da série “Mestres das Histórias em Quadrinhos”, encartado na edição 181 do QI, de maio/junho de 2023. Que viva José Ruy!

Henrique Magalhães
Em 19/04/2023

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Páginas do encarte sobre José Ruy

Marca de Fantasia
Maio de 2023
Editor: Henrique Magalhães
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