Relicário Mais   

Maraiah, por Edgard Guimarães

Certamente o nome foi uma homenagem e uma provocação à Maria de Henrique Magalhães, certamente a estrela desse espaço na página de abertura da Marca de Fantasia. Mas longe de ser uma personagem ativa, combatente, consciente, questionadora, entre outros atributos cidadãos, a Maraiah corre – e bem rápida – na direção oposta.

A ideia central é um ser tão politicamente incorreto quanto possível. Baseada em várias pessoas que conheci ao longo da vida, sempre ostentando com orgulho a mistura perfeita de burrice, ignorância, atrevimento, entre outros atributos não civilizados. Pessoas que estão aí desde a aurora da humanidade – certamente antes disso – cumprindo com obstinação a missão de sobreviver. E hoje bem longe de constar das listas de extinção de espécies.

Se Madame Bovary era Flaubert...
Se Maria é Henrique Magalhães...
Maraiah – Deus me livre! – não sou eu!

Edgard Guimarães

 

Impertinente Maraiah

A criação artística está imbricada por nossa história de vida e visão de mundo. Seja por identificação, seja por negação, o autor está lá, em sua obra, expondo seu pensamento, suas ideias, suas idiossincrasias, ou suas contradições. Maria sou eu, pois é por meio de Maria que faço as críticas ao mundo que me cerca, não apenas o restrito círculo de relações pessoais, mas o amplo contexto da política e da cultura nacional, quiça mesmo internacional. É um modo impertinente de me colocar no mundo, de participar das questões que afetam a todos, de provocar a reflexão e tentar mudar as coisas de meu jeito.

Com Maraiah, Edgard Guimarães faz tudo isso, mas de maneira invertida, como se escrevesse em terceira pessoa, enquanto eu o faço em primeira. Com essa estratégia de expressão, certamente Edgard pode construir discursos com muito mais liberdade sem o risco de cair em contradição. Em suas tiras, quem fala é Maraiah, com sua visão tosca de mundo, como vítima de uma construção social que a relegou aos limites do instinto de sobrevivência apartado do pensamento crítico.

Nesse ponto, pelo contraditório, vemos a genialidade de Edgard, que ao construir uma personagem distante de sua própria realidade pode manifestar opinião sobre o mundo dos degredados, dos infelizes, obtusos e miseráveis de corpo e mente que pululam o entorno sem que se possa fazer praticamente nada. Maraiah traz esse confronto civilizatório e o alerta de que essa massa amorfa começa a mostrar sua força, ainda que manipulada por espertalhões ungidos por dinheiro e deuses corruptos.

Henrique Magalhães
Em 06/04/2023


Maraiah, de Edgard Guimarães, publicadas pela Marca de Fantasia


Marca de Fantasia
Abril de 2023
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