Maria solta o verbo nos "desaforismos de campanha"
Durante a pandemia de covid19, entre 2020 e 2022, assisti a uma live com Edgar Franco em que ele explicava os termos HQtrônica, cunhado por ele, e HQforismo, de sua lavra com Danielle Barros. O primeiro é a conjunção de História em Quadrinhos (HQ) com “eletrônica”, ou seja, histórias em quadrinhos que utilizam elementos da informática em sua concepção, como recursos de navegabilidade, campo infinito, animação, som, interatividade etc.
Já os HQforismos são uma mistura de História em Quadrinhos com “aforismos”, a exemplo de sentenças curtas e reflexivas associadas a elementos das HQ. O HQforismo abre mão da narrativa sequencial imagética própria das HQ, mas conta uma curta história em um quadro único, algo como um aforismo ilustrado.
Em meio ao debate, Edgar levantou a hipótese de se ter também uma antítese do aforismo, quando a sentença não busca formar opinião, e tascou o termo “desaforismo”, quase como um chiste, um jogo criativo e despretensioso para certo tipo de expressão. Habituado ao jogo de palavras que tão comumente se explora nas tiras humorísticas, vi ali , ao contrário, um campo fecundo de criação para uma arte ao mesmo tempo engajada e irreverente.
Em 2018, durante o segundo turno da eleição presidencial, com a iminente possibilidade de se ter um desqualificado como chefe na nação, fiz circular minha personagem Maria na internet com charges diárias que assemelhavam-se a aforismos humorísticos - precursores dos “desaforemos” -, tocando em pontos nevrálgicos da campanha e defendendo a eleição de Fernando Haddad. O movimento de resistência não foi suficiente para evitar a desgraceira que amargamos por quatro anos, mas, apesar do fracasso da campanha, Maria deu seu recado, participando ativamente de um momento-chave da história política brasileira.
A partir daí Maria tomou fôlego e fez a resenha crítica da vida quotidiana nos quatro anos de desgoverno do “abominável”. Agrupando esse material, dois álbuns foram lançados pela Marca de Fantasia, “A vida em turbilhão” em 2019 e “Vida ordinária” em 2021, este com lançamento também em Portugal, pela editora Polvo, em 2022.
À beira de nova eleição, a personagem volta a atuar de forma militante, mas sem apontar caminho. Por meio de “Desaforismos de campanha”, Maria instiga os leitores a refletir para além da circunstância atual. Como desaforos que não se leva para casa, Maria vai soltando provérbios que tocam nas feridas e nas mazelas em que submergiu o país.
As charges de Maria com os “desaforismos de campanha” estão em processo e circulam no perfil https://www.instagram.com/maria_espirituosa no Instagram. Podem também ser encontradas no sítio da personagem, em https://www.marcadefantasia.com/maria.html.
HM, 20/08/2022
Leia a postagem de Edgar Franco sobre a série em seu blog:
http://ciberpaje.blogspot.com/2022/08/henrique-magalhaes-se-inspirou-em-fala.html |