Gibiteca e fanzinoteca Henfil
A Gibiteca Henfil, fundada em 1990, teve como inspiração a Gibiteca de Curitiba, criada em 1982. A biblioteca de quadrinhos paraibana tornou-se a segunda do gênero no país, reunindo em espaço exclusivo um amplo acervo de revistas, álbuns, jornais de quadrinhos, bem como fanzines dedicados às histórias em quadrinhos e outras expressões culturais.
Foi a partir de minha coleção de “gibis” que se ergueu a Gibiteca Henfil, pensada como projeto de extensão do Curso de Comunicação Social da UFPB. À época eu era professor do Departamento de Comunicação e aproveitei minha experiência com a produção e edição de quadrinhos para socializar minha coleção de forma lúdica e pedagógica. A Gibiteca Henfil contou com o apoio integral da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, que lhe deu acolhida em um ambiente de cultura privilegiado da capital.
Instalações da Gibiteca Henfil. Fotos do acervo. |
O acervo inicial contava com publicações da década de 1960 em diante, com revistas que eram peças raras e de importância para qualquer colecionador. Destacam-se as coleções completas do Homem-Aranha, da Ebal – Editora Brasil-América Ltda.; os Clássicos Walt Disney, com adaptações para os quadrinhos das grandes animações cinematográficas; mas, sobretudo, uma amostragem significativa das publicações alternativas das décadas de 1970 e 1980, como as revistas Balão, O Bicho, Grilo, Fradim, as edições de terror da editora D-Arte, a Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Animal etc.
Outra base importante do acervo foram exatamente os fanzines, que são as publicações que circulam completamente à margem do mercado, experimentais, irreverentes, inovadoras e que possibilitavam aos novos artistas a criação e divulgação de sua obra. Os fanzine foram a fonte para a dissertação de meu Mestrado, realizado na Escola de Comunicação e Artes da USP em 1990, mesmo ano da fundação da Gibiteca Henfil. Não por acaso, a diversidade de fanzines recolhidos para a pesquisa vieram enriquecer o acervo da Gibiteca, que mais apropriadamente, por sua profusão e importância, deve ser chamada Gibiteca e fanzinoteca Henfil.
Mike Deodato, Paloma Diniz e Hugo Canuto no Quadrinhos Intuados, 2019 |
À altura o termo “fanzine” era algo disseminado quase que exclusivamente no meio independente, entre fãs, editores e leitores dessas efêmeras e insubordinadas publicações. Os fanzines, como importância cultural, tiveram seu primeiro reconhecimento acadêmico no Brasil com minha dissertação de Mestrado e o primeiro livro sobre o tema, “O que é fanzine”, de minha autoria, lançado em 1993 pela editora Brasiliense. Não se pensaria então na criação de uma “fanzinoteca” no país, como a que foi criada em Poitiers, na França. Mas, a rigor, já se tinha uma, como parte fundamental do acervo da Gibiteca Henfil.
A Gibiteca (e fanzinoteca) Henfil, nos mais de 30 anos de existência, cumpriu seu papel social, ao organizar e disponibilizar as coleções de revistas e fanzines que de outra forma se perderiam na memória; instigaram a criatividade de várias gerações de jovens leitores e criadores que passaram por suas mesas; organizou eventos para a discussão e ampliação do conhecimento sobre a importância dos quadrinhos para a leitura e formação cultural de crianças, jovens e adultos.
O reconhecimento por sua trajetória veio no fluxo contínuo de doações dos frequentadores, por vezes de acervos particulares inteiros, peças raras e de valor afetivo inestimável. Seu legado continua presente e vivo, com os “Quadrinhos intuados”, evento anual que reúne quadrinistas e editores principalmente da região Nordeste, bem como com o trabalho diário de sua atual diretora, Maria Botelho, no acompanhamento, formação e difusão dos quadrinhos e dos fanzines em toda sua abrangência e vitalidade.
Henrique Magalhães
Em 25/01/2021
O autor na feira de publicações do Quadrinhos Intuados, 2019 |