Relicário

O fogo fátuo dos quadrinhos independentes

A revista Maria Magazine chega ao número 12, o que rende uma reflexão. A criação da revista teve a intenção primeira de mostrar as novas tiras da personagem e as antigas, que nunca tinham sido publicadas em revista. Mas tinha também a proposta de criar uma revista coletiva, apresentando outros quadrinistas, principalmente da Paraíba e do elenco da editora Marca de Fantasia.

No início dos anos 2000, quando ela surgiu, não havia mais revistas de humor, muito menos com essa proposta coletiva. Pensei que estaria resgatando um tipo de revista que foi bem apreciada nas décadas de 1970 e 1980, como Grilo, Eureka, Patota, O Bicho, Chiclete com Banana... Para meu desencanto, Maria Magazine nunca emplacou, nem mesmo no restrito meio das publicações independentes, muito menos entre o público que é fã da Maria.

Minha iniciativa seria extemporânea no conteúdo e na forma? Os quadrinhos de Maria circulam hoje para uma lista de contatos do WhatsApp e daí para a lista de quem os recebe e acha que vale a pena compartilhar. São novos tempos, novos meios e formas de circulação. As bancas estão acabando, os jornais sumindo e o etéreo meio virtual, em sua instantaneidade, vai ganhando espaço e destruindo os rastros de materialidade. Não há espaço para as revistas, apenas para as postagens rápidas e fúteis das redes sociais. Infelizmente!

Acontece que Maria Magazine nesse tempo todo não teve um exemplar adquirido, salvo nos raros eventos presenciais que participo, penso que porque são baratas em relação aos preços estrambólicos da produção independente da atualidade. Os álbuns de Maria, cujas edições até mesmo internacionais estão disponíveis no sítio da editora Marca de Fantasia, também ninguém se interessa. Da mesma forma que os álbuns com a qualidade de autores/as como Teresa Câmara Pestana (Postais de Viagem), Claire Bretécher (Os Frustrados), Cristian Mallea (Carne Argentina), Cátia Ana (When a man loves a woman) etc.

     

Onde está o público de quadrinhos? Parece que muito se fala e pouco se lê. Muitas pesquisas acadêmicas se debruçam sobre o universo narcisista dos super-heróis, em suas espetaculares adaptações ao cinema, mas poucos apostam na diversidade - por que não, na maturidade humanista - dos quadrinhos europeus e latino-americanos. 

Não apenas porque o meio digital é rápido e rico na edição e pode ter uma circulação imediata, sem intermediários, resolvi mudar. Minha decisão de embarcar de vez nesse meio passa também pela frustração de ver as edições impressas se acumulando nas prateleiras sem a devida atenção. Para que editar se não há público que se interesse? Vamos fazer outras coisas, cultivar um jardim, criar um pet, pintar quadros para desestressar... ou resistir, fazendo vez ou outra mais uma edição de Maria Magazine, por puro prazer pessoal, sem desejar resgatar um passado que não encontra mais espaço na velocidade dos dias atuais.

Sobre o boom dos quadrinhos independentes, até que me provem o contrário, não passa de uma nuvem de fumaça, ou de poeira, conforme a proximidade da tragédia ambiental.

Henrique Magalhães, em 16/10/2021 


  Marca de Fantasia
  Outubro de 2021
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