Fanzinotecas brasileiras em Barnard Zine Library

Num esforço de construção coletiva da memória dos fanzines, o quadrinista e editor Gazy Andraus mediou a inserção das fanzinotecas brasileiras na Barnard Zine Library. Gazy Andraus é Professor Doutor, pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP e ASPAS, Associação dos Pesquisadores em Arte Sequencial, além da INTERESPE, Interdisciplinaridade e Espiritualida na Educação (PUC/SP) e Criação e Ciberarte (UFG). Gazy é um dos pioneiros no gênero de quadrinhos “poético-filosóficos”, ou “fantástico-filosóficos”, criando várias publicações sobre o tema.

Barnard College, ligada à Columbia University, é uma das instituições acadêmicas mais seletivas dos Estados Unidos da América, voltada exclusivamente às mulheres. Dedica-se a capacitar jovens a perseguir suas paixões. Barnard College tem como objetivo fornecer educação em artes liberais da mais alta qualidade e favorecer o desenvolvimento dos recursos intelectuais para aproveitar as oportunidades à medida que novos campos, novas ideias e novas tecnologias surgem. Os fanzines fazem parte da estratégia pedagógica interdisciplinar.

A ideia da Barnard Zine Library foi lançada em 2003 e levou cerca de um ano de planejamento para colocar os zines nas prateleiras. Possui, atualmente, mais de 11.000 publicações de diversas categorias no catálogo e muitas outras aguardando catalogação para ir para as prateleiras.
Conforme descrito no site da Barnard Zine Library, a coleção visa atender às necessidades de leitores, acadêmicos e pesquisadores, alunos e professores de Barnard, Columbia e de outras instituições. Estudantes de Pós-Graduação em Biblioteconomia também a visitam para aprender como coletar, catalogar e preservar publicações alternativas.

A curadora da proposta Jenna Freedman e colaboradores acreditam que a coleção será um recurso inestimável para futuros acadêmicos. Os zines são documentos de fonte primária que contam a história da vida, cultura e política contemporâneas em uma infinidade de vozes femininas que, de outra forma, poderiam ser perdidas. Também esperam que os leitores atuais apreciem a coleção simplesmente por sua vibração, humanidade e valor artístico.

Não são raras as fanzinotecas - ou Zine Libraries - espalhadas pelos EUA, conta-se as dezenas em todo o país. Há muitas outras em várias partes do mundo, mas não com tanta incidência. A Barnard Zine Library nos apresenta uma lista dessas “libraries", donde o Brasil participa com algumas instituições. Atualmente são seis: Fanzinoteca Fabiana Menassi, Ilha Comprida, SP; Fanzinoteka Thina Curtis-Gibiteca Max Zendron, Barueri, SP; Fanzinoteca IFF, Macaé, RJ; Gibiteca/Fanzinoteca Henfil, João Pessoa, PB; Fanzinoteca Mutação, Rio Grande, RS; Zinoteca Glauco Vilas Boas, Serrana, SP.

Dentre as rubricas da Barnard Zine Library encontra-se uma que provavelmente ganhará fôlego com a digitalização, a “Digital Libraries”. A produção cada vez maior de fanzines eletrônicos deve ser contemplada prioritariamente aí, bem como a recuperação de antigos fanzines impressos em processos digitais. Esta coluna de zinetecas digitais foi ressaltada por Quim Thrussel, codinome de um ativo articulista dos quadrinhos e fanzines que também ajudou na inclusão de alguns dos nomes das zinetecas físicas e digitais na lista da Barnard.

Destaca-se ainda, a inclusão de alguns sites que veiculam, armazenam e divulgam os fanzines. Nessa categoria, aparecem três atividades desenvolvidas no Brasil: a Biblioteca de Fanzin/ES, dirigira por Daniela Dias; a Zineteca Digital Colaborativa, que é um site de compartilhamento de arquivos; e a Marca de Fantasia, editora dirigida por Henrique Magalhães, que produz e disponibiliza fanzines e outras publicações independentes.

Todas as fanzinotecas são importantes, não só no país, mas no mundo. Destacamos a Fanzinoteca de Poitiers, na França, que desde 1989 desenvolve um trabalho precioso de catalogação, difusão e promoção da cultura zine, com acervo multitemático e internacional. No Brasil temos o pioneirismo da Fanzinoteca Mutação, criada em Rio Grande, RS, por Law Tissot.

Na atualidade consideramos a importância pedagógica da Fanzinoteca do IFF de Macaé, RJ. A Fanzinoteca faz parte de um projeto de extensão na modalidade Arte e Cultura conduzido pelo designer e cartunista Alberto Carlos Paula de Souza - Beralto - no Instituto Federal Fluminense, que desde 2013 promove continuamente oficinas de criação de fanzines e HQs em instituições de ensino e eventos culturais. Já na Paraíba, a Gibiteca Henfil assume sua feição mais alternativa ao incorporar em seu título a Fanzinoteca.

Como aponta Gazy Andraus, a Gibiteca Henfil foi fundada em 1990, construída sobre o acervo de quadrinhos de Henrique Magalhães, mas sobretudo com as publicações independentes e fanzines que acumulou durante a década de 1980 e que serviram de lastro para sua pioneira dissertação de Mestrado na ECA/USP. Depois, com o Doutorado em Paris 7, o acervo de fanzines cresceu ainda mais, ampliando as origens e diversidade dessas publicações. Por isso, a Gibiteca caracteriza-se também como uma fanzinoteca - com precioso acervo, por sinal. Portanto, doravante ela é a "Gibiteca/fanzinoteca Henfil", da Associação Marca de Fantasia, administrada pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba.

Gazy Andraus desenvolve um canal no YouTube chamado GaZyne, dedicado evidentemente à divulgação de fanzines. Em um dos episódios ele trata das fanzinotecas, ampliando a reflexão sobre esse tipo de empreendimento.

A experiência institucional da Barnard Zine Library é um bom exemplo de como essa frágil, mas rica produção artesanal, disruptiva e inovadora deve ser preservada e estimulada. A Fanzinoteca do IFF, de Macaé, segue esse caminho. Tomara que outras Universidades e Institutos Federais brasileiros despertem para a urgência e importância dessa atividade cultural.

Henrique Magalhães
Em 05/12/2021


Tela do canal GaZyne, de Gazy Andraus

Marca de Fantasia
Dezembro de 2021
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