Irmãos Siameses

Gazy Andraus & Edgar Franco
São Vicente, SP; Ituiutaba, MG: Edição independente,
outono de 1994. 24p. formato A5.

Edição digital

O irmão

Como definir o instante da criação? Parece algo difícil, mas para mim sempre constitui um momento de elevação, de desligamento completo das correntes do cotidiano, um instante de vida intensa. A verdadeira criação, ao meu ver, é aquela que nasce espontaneamente, que flui suavemente de nossa essência, mesmo seu conteúdo sendo amargo, às vezes...

O primeiro contato com Gazy Andraus foi uma carta escrita por ele após ter lido uma HQ minha num zine, onde também havia publicado. Ele atentou para dois fatos, o primeiro a coincidência na linguagem de nossas HQs, de cunho filosófico e intimista; o segundo é que, curiosamente, nós somos nascidos na mesma cidade (Ituiutaba – MG) e apesar disso ainda não nos conhecíamos.

A relação se estendeu e acabamos por descobrir muitas semelhanças no nosso processo criativo. Gazy, com seu traço livre e enquadramento espontâneo, ampliou minha noção de liberdade dentro das HQs.

Após a constatação de grandes semelhanças entre duas HQs nossas (O jogo da vida e da morte e Bela), feitas sem que tomássemos conhecimento uma da outra, as duas sem roteiro pré-estabelecido, ou seja, espontaneamente, resolvemos uni-las em uma revista com outros trabalhos feitos em parceria, onde tivéssemos total liberdade de criação.

Assim nasce Irmãos Siameses, nosso pequeno elogio ao ato mágico de criar que liga o homem à essência cósmica infinita.

Edgar S. Franco

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Sempre desconfiei que as almas humanas convergissem ao infinito. Sempre intuí que, em essência, todos os homens são iguais. Sempre busquei compreender as relações das coisas. Hoje em dia os fatos falam por si.

Edgar Franco é um desses seres que buscam o algo mais. E isto se reflete em seu trabalho.

Bem, este exemplar em suas mãos teve a concepção idealizada por Edgar. As condições fizeram-nos ver que era favorável a sua realização. Principalmente depois que ele me mostrou sua HQ Bela, e eu imediatamente vi nela minha HQ O jogo da vida e da morte. Constatado isto, disse-lhe que a revista deveria conter ambas as HQs como atestado de comprovação. Ele condescendeu.

Estas duas HQs foram realizadas em anos diferentes, sem que soubéssemos um do outro. Em ambas, um ser busca o outro. O outro tem chifres. Um ser se entrega ao outro, que lhe decepa a cabeça. O “vitorioso” se retira (para a direita); a cabeça do “derrotado” jaz sobre o solo, que se mescla com o texto poético-filosófico de encerramento.

Para Edgar, a beleza cai, mas não morre... Para mim, o que morre não morre verdadeiramente, mas renasce para algo novo, modificado, melhorado.

Nas outras HQs da revista, acabamos fundindo os estilos durante o processo, convergindo como dois irmãos colados. Foi algo meio inconsciente (Coletivo, de Jung?).

Pessoalmente, gostei muito de trabalhar assim, especialmente na HQ Sobre as aparências.
Abra a revista. Abra-se para ela... Abra suas portas!

       
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