Seu nome próprio... Maria!
Henrique Magalhães & Rui Brito
Os quadrinhos humorísticos sempre tiveram relevância desde sua origem no Brasil. Já em 1867 o ítalo-brasileiro Angelo Agostini lançava no Rio de Janeiro As Cobranças, sua primeira história ilustrada na revista O Cabrião, e em seguida As aventuras de Nhô-Quim ou impressões de uma viagem à Corte, no jornal Vida Fluminense, em 1869. Contudo, foi na década de 1970 que a produção de tiras humorísticas se difundiu pelo país, mantendo a verve crítica e contestadora que a caracteriza.
Um texto curto para uma história longa. É este o ponto de partida para a comemoração dos 40 anos de criação de Maria. Não precisa muito para dizer o essencial, é esse o espírito da personagem em suas mensagens quase telegráficas. A opção pelo formato “tira” leva em conta esse princípio, de dizer o que é preciso sem arrodeios. Curto e incisivo, o texto de Maria preza pela crítica política e social, quase sempre sutil, e por reflexões existenciais.
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Álbum lançado pela editora Polvo, de Portugal |
Maria nasceu em 1975 no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, em pleno regime de exceção. Inspirada nas tiras críticas que circulavam nas publicações alternativas, a personagem, que inicialmente era uma solteirona em busca de companhia, logo foi se posicionando na luta contra a ditadura militar, o cerceamento das liberdades políticas, a censura, bem como contra os costumes arcaicos que estruturavam uma sociedade machista, racista e homofóbica e conservadora.
Foi uma transição natural, seguindo o amadurecimento do autor, que se configurava no engajamento em movimentos sociais como o estudantil e as ditas “minorias”, em particular o movimento gay. Maria tornou-se porta-voz de boa parte de uma geração que compartilhava as angústias e esperanças de transformação, buscando construir no grito e na coragem um melhor porvir.
Esta edição de Maria, que comemora seus 40 anos, traz uma seleção de tiras que percorre várias fases de criação, mas, sobretudo, apresenta a produção mais recente, com histórias que mostram a Maria de sempre em sua verve crítica, mas renovada em suas temáticas, pois que refletem os conflitos quotidianos.
Maria: teu apelido, Lisboa, é uma edição muito especial para a personagem e para o autor. Apesar de já ter circulado no semanário português Algarve Região, de Faro, na década de 1990, e no fanzine La bouche du monde, em Narbonne, França, Maria não tinha ainda uma edição em livro fora do Brasil, o que se concretiza agora com a parceria entre a Polvo edições e a editora brasileira Marca de Fantasia. Esperamos que Maria encante o público português como o fez com o brasileiro, mas que, antes de tudo, faça refletir sobre a idiossincrasia de cada um.
Texto publicado no álbum “Seu nome próprio... Maria! Seu apelido, Lisboa!”, em 2015 pela editora portuguesa Polvo.
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