Editorial
Só as pedras sabem esperar o fim de cada estação
sem saber os ‘comos’ e muito menos os ‘por ques’,
seguimos vivos, atravessando o pior dos infernos, e
nossa companhia só faz a situação piorar, nossa
solidão nunca foi tão desejosa de fim como agora. não
sentimos falta de tudo, mas o nada feito um espelho
maltrata a imagem que criamos para nossos
sentimentos e (também) nossos sentimentalismos.
Teoricamente uma quarentena é pra medir esforços
para ver o que melhora, no organismo que pulsa a
semente da vida, do gozo da alegria de estar vivo.
essa quarentena tem se mostrado uma experiência
única, não sabemos o que será no dia seguinte e o
esse seguinte nem sabemos até que ponto ele estará
pulsando, ou se ainda teremos dias para ter esperança.
tenho provado o gosto de ser de cada pedra que
amontoo nesse mundo que é meu quintal, meu por
que é o momento de saber que minhas fugas de
infância ainda cabem na copa das árvores que subia,
e, ainda subo quando me lembro da escalada.
estamos vivos por fora, exaustos por dentro, e sem
aquele brilho nos olhos que umas doses de conhaque
com os amigos trazem.
já me disse uma vez o sábio Itamar Assumpção
‘‘quem não vive tem medo da morte’’.
seguiremos juntos, o resto do tempo que sobrou para
viver, seguiremos jorrando isso que velhas máquinas
de imprimir nos permitem ser: poesia e nada mais.
com carinho e resistências: Rômulo Ferreira
Suplemento Acre
Ouro Preto, MG. Brasil
N. 19, outubro-dezembro 2020, 27p.
Organização: editora AMEOPOEMA
Várias (os) colaboradoras (es)
Capa em stencil por: @studiob2mr
Revisão: participantes
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