"Fomos para Croatã"
Um trabalho que convida o apreciador degustar em doses homeopáticas a leitura, pois de tão prazerosa não se deseja chegar ao fim. Na fluidez da obra, o leitor se vê num dilema: apreciar a mais pura filosofia ou contemplar os desenhos que dialogam com o texto de forma simétrica? Por ser uma obra profunda, de abundante conhecimento do autor, nos conduz a ter, ou pelo menos tentar possuir esse mesmo tipo de saber histórico-geográfico-filosófico, que analisa tempo-espaço, para que possamos dialogar em pé de igualdade com o autor supramencionado. Quebra-se a mesmice acadêmica engessada da produção de periódicos ou capítulos de livros, tidos como obras de maior envergadura e relevância.
A filosofia política do desaparecimento nos convida a reflexão, a pensar formas de resistência e (re)existência, dentro do modelo ultraliberal e de inflexão do capitalismo. O ensaio nos faz perceber que a pós-modernidade líquida, nos aprisiona por meio do fetiche ideológico criado pela máquina do Estado, em conjunto com o capitalismo, cria-se uma tecnoesfera (ciberespaço), seguida de uma psicoesfera (como lidamos com a tecnologia), que nos faz vislumbrar não o que nos une, mas o que nos separa. Nesse cenário, somos conduzidos a acreditar em ilhas de prosperidade, cada um faz o seu e ninguém se preocupa com o outro. Construímos o desejo de coisas imediatas (efêmeras), não essenciais à vida, ao gozo, à furtividade. Por isso este ensaio é tão necessário, para pensarmos zonas autônomas temporárias como possibilidades de encontrar fissuras na sociedade do desempenho, que nos adoece, nos aprisiona, nos (des)humaniza. A TAZ se apresenta como possibilidade de ruptura e construção de algo novo e prazeroso. E aí vamos para Croatã?
Frederico do Nascimento Rodrigues
Doutor em Geografia pela UFC
Pesquisador do Observatório das Metrópoles - Núcleo Fortaleza
29/04/2024
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