A ideia de escrever sobre o que rola por baixo da saia de Maria acompanhou o estágio pós-doutoral de Nadja Carvalho, realizado na Universidade de Aveiro, Portugal, em 2014. De lá, ela foi lendo as tiras enviadas por Henrique Magalhães, além de duas visitas e muita conversa com autor da personagem, que alimentaram o projeto do livro. Desse modo, foi apreendendo as questões essenciais à personagem, que tem no amor "a maior das subversões", considerando ainda seu erotismo e sua sexualidade homoafetiva.
Para Nadja, o livro firma-se em três elementos de narrativa: personagem, espaço e ponto de vista. Ela examina, em suas palavras, "alegorias 'por baixo' da saia abaloada de Maria e esta simbólica figura integra temas acerca do golpe militar, e outros, beijo de língua, sexo peludo, strip-tease etc.". Para a análise, Nadja utiliza fragmentos de suas memórias de pinturas, filmes e músicas, além de pedaços de poesias.
Algo inusitado no estudo de personagens de quadrinhos, a autora fez consulta astrológica na internet para Maria: "na afoiteza desta proposta descobri um recurso excepcional em leitura de HQs; desconheço quem tenha usado antes mapa astral pra perfilar personagem e se alguém usou fez bem, pois a criatura de ficção também nasce e é regida por um signo e seu ascendente".
A feitura do livro sobre Maria traz à lembrança outro processo de investigação que gerou o livro pela Marca de Fantasia Edgar Franco e suas criaturas no banquete de Platão (2012). Na ocasião, Nadja sentou à mesa para um bate-papo em que estiveram presentes os gregos e as figuras da HQ poética de Edgar, regados a vinho de Ambrosia. Com Maria, participou de outra leitura-festa, "onde a intumescência erótica da HQ Maria (...) é acolhida pelo 'pique' do frevo, sob os acordes do Carnaval da minha infância em Olinda-PE".
Exercitando o método de "espiolhar", definido por certo voyeurismo lúdico, Nadja entregou-se à investigação como quem penetra na opacidade da saia balão de Maria, embalada na poética do frevo de Alceu Valença: “No pique do frevo caí como um raio. Me segura, que se não eu caio...”. "Usei o recurso da observação 'voyeurística' mesmo quando avistei Maria Nua e crua! Despudorada no beijo de língua. Desavergonhada ao mostrar a bunda", ressalta a autora.
E nada mais será dito, pra não estragar as surpresas.
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